O que o TRÂNSITO pode nos ensinar sobre EMPATIA?

 


Em uma época em que eu ainda não tinha whatsapp, estava dirigindo o carro e vi que o sinal estava vermelho. Não estava muito trânsito, era uma leve ladeira e já tinha um carro já parado lá na frente. Fui pisando aos poucos o pé no freio enquanto eu pegava a agenda para confirmar um horário. TOC. Meu carro, na mínima velocidade possível, encostou no da frente – eu não havia pressionado o pedal até o final! O motorista saiu do carro, veio até o meu e começou a me xingar de tudo o que era nome. Sem saber muito o que fazer, comecei a baixar o vidro com a intenção de me desculpar. Na mesma hora, ele voltou para seu carro, fechou a porta e partiu.


O homem não quis saber quem eu era, o que havia acontecido. Reagiu ao TOC, descarregou e foi embora. E que sensação horrível que mistura impotência, raiva e confusão! Se resolveu algo? Penso até hoje que aquela situação salvou ele de um ataque cardíaco. A catarse foi tão grande em cima de mim que, junto, deve ter xingado a fechada que deram nele no trânsito, a briga com a companheira, engolidas de sapo com o chefe…

Apenas pelo fato de eu estar tentando entender um pouco o que houve – depois de me acalmar daquele pateta me xingando e indo embora! -, penso que já estou sendo empática. Empatia é tentar enxergar o que se tem pelos olhos do outro. Mas isso não é possível todas as horas. Também é desorganizador sair de si mesmo a todo momento!

Como então “dosar a empatia”, se é que isso é possível?

Primeiro, recomendo você saber o que quer. É sua intenção tentar compreender o que o outro pensou, por que agiu de tal forma? Essa disponibilidade para o outro envolve deixar um pouco de lado aquilo que está acreditando. Somente após a fase do o cara é bem inútil de me xingar assim! consegui enxergar que pra mim era importante tentar entender o lado dele (ou inventar um lado, enfim!). Estava muito injusto pensar que, só pelo TOC no carro, gerações da minha família estavam sendo praguejadas! Se colocar no lugar do outro é dar um ponto de vista novo para a história, ajudando a ressignificá-la. Para o nosso bem e de quem esteja ao nosso redor!

Também recomendo aceitar o que lhe vier. Se o tal homem tivesse vindo falar qual era o problema dele de verdade, eu teria escutado? Ou se um amigo me disser que ele tinha razão, como eu lidaria com isso? Estar aberta não é concordar. É preciso colocar a farinha na peneira para que ela comece a ser peneirada. Tão lógico quanto isso, escutar com todos os sentidos para, só depois, jogar fora o que não me serve é uma lição valiosa (e sim, árdua!).

Se sim, você quer entender o que se passou pelo outro naquela situação; e sim, tu está disponível para as respostas que chegarem depois disso.. Parabéns! Você é um ser empático! E pra quê?

A empatia, junto com outras ideias que sempre falo em minhas colunas, ajuda a construir um mundo em que as relações sejam priorizadas e onde nos sintamos pertencentes. Fazer parte de tudo isso ao nosso redor, além de ser gratificante e acolhedor, também faz com que sejamos co-responsáveis pelo bem (ou mal) deste mundo. E daí podemos começar a falar de política, LGBT, aborto, cores preferidas, terceira guerra mundial, e trânsito.

Me permito sempre dar uma resposta inusitada, criativa, aquela que o outro (geralmente o estressado, no trânsito) não está esperando. Uma amiga conheceu um motorista de Uber que, ao xingarem ele por algo no trânsito, o homem começava a mandar beijinhos, deixando o outro sem graça até decidir ir embora. Não mando beijinhos, mas tento mostrar através do sorriso essa vontade de entender o outro e como isso é gratificante e acolhedor quando olham a gente.


Caminhando para chegar ao consultório, com o pé já em cima do PARE escrito no asfalto, me deparo com um carro que estava entrando com a roda em cima do mesmo PARE. Dirigindo bem devagar, notei que a motorista estava olhando para o outro lado, vendo se conseguia cruzar a rua. Quem me viu foi a passageira, que cochichou algo que deve ter sido um tem uma mulher tentando atravessar a rua. A motorista, então, me olhou e quase ouvi o desculpa! pelo vidro fechado, junto com uma expressão que também dizia eu sei, eu estava realmente errada! Agradeci com um sorriso contagiante e atravessei a rua. As duas passaram por mim e, na cabeça de nós três, passava um me senti compreendida, com toda a vontade de passar isso adiante.


Empatia é um dos motes do meu trabalho. Sou do Grupo 3 de Nós e, com a espontaneidade e criatividade, queremos promover microtransformações pra deixar esse mundo mais gostoso de se viver!

Até a próxima coluna 🙂

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