The Promised Neverland – análise com spoilers (parte 2)

foto de Ray, mostrando sua numeração

Voltando à nossa opinião sobre o anime The Promised Neverland (e voltando com o alerta de SPOILER) (para ler a parte um, clica aqui) não podemos nos esquecer da belíssima representação do relógio durante alguns capítulos. Nos jogos e treinamentos durante o pega-pega, o relógio-cronômetro aparece ao fundo da cena, tendo em primeiro plano os personagens correndo durante a perseguição. Em outros momentos, a “câmera” mostra os personagens principais a partir da visão de um pêndulo, ou seja, seguindo o movimento do pêndulo de um relógio.

A primeira representação mostra as crianças, literalmente, em uma corrida contra o tempo, que virá a salvar suas vidas, enquanto a visão do calendário na parece, tendo seus dias riscados, nos mostra que o tempo está se esvaindo. A segunda visão é como se o próprio relógio fosse um personagem, observando as crianças confabulando e, nesse momento, dando a impressão de passar mais lentamente.

Cheguei a pensar que no pêndulo houvesse alguma câmera escondida para vigiar as crianças, mas não – a casa não é altamente vigiada, por ter sistemas anti-fuga bem construídos.Quem leu Foucault talvez tenha pensado que um sistema de panóptico resolveria bem a questão da vigilância. Mas lembre-se que aqui estamos diante de um cenário distópico, onde o que deve ser entendido pelas crianças é que elas são livres, desde que dentro dos muros, enquanto se acredita que nenhuma delas vai descobrir a verdade por trás da promessa de adoção, vivendo, portanto, uma vida totalmente feliz.

Na criação de animais para corte, havia (e ainda há) bem a prática de se evitar que o animal “se exercite muito”, visando evitar que sua carne fique mais dura. Alguns pensamentos mais “modernos” dizem que, na verdade, deve-se fazer exatamente o contrário: criar o animal de maneira livre, com alimentação mais natural (pasto) e hábitos saudáveis para que seja criado mais próximo ao natural, inclusive se obtendo uma carne com menos gordura. Por mais diferenças no impacto ambiental que esse sistemas geram, no fim, o destino do animal é o mesmo. Mas, claro, parece que esse último sistema proporciona um bem estar maior ao animal durante sua vida.

É nesse sistema que as crianças da fábrica também são criadas: livres (desde que do lado de dentro do muro), com uma ótima alimentação e carinho. Não podem saber que são constantemente monitoradas, tanto através do dispositivo de localização em suas orelhas, quanto através de suas notas nos incessantes testes escritos. Caso contrário, poderiam suspeitar de algo. Suas roupas são totalmente brancas e parece que devem manter assim, a fim de se manterem longe das impurezas. Assim, como a mama Isabella tenta explicar, a morte é rápida, mas a vida foi feliz. E isso que importa para se garantir as melhores mercadorias.

Em Admirável Mundo Novo (se a memória não me trai), temos a passagem de crianças sendo colocadas em um piso onde serão submetidas a um choque, que vai vir a condicionar seus atos, do que devem ou não fazer, seguindo no extremo o sistema punição-recompensa. O anime não traz a mesma prática pedagógica. A não ser quando Mama quebra a perna de Emma para que não fuja, não visualizei meios de correção através de castigos físicos. Porém, as recompensas estão bem presentes, por exemplo, quando Ray decide ser o espião informante de Mama, apesar de saber muito bem para onde vão as crianças “recém adotadas”.

À princípio, a inteligência das crianças me espantou: rapidamente pensaram táticas de fuga, possíveis falhas e erros, bem como soluções para estes. Mas se pensarmos nos avanços da manipulação genética (lembrando novamente de Admirável Mundo Novo) e também com o acesso dessas crianças aos livros, bem como o incentivo para estudarem, tudo fica mais claro. Afinal, um produto de alta qualidade é um cérebro super desenvolvido.

Mas nesse mesmo sentido, também a aparência física de alguns me causou estranheza. Mais especificamente quanto a Norman, apesar de ficar doente com frequência quando mais novo, tem uma aparência incólume, seguindo padrões eurocentristas clássicos de beleza. Com grandes olhos azuis e pele claríssima, parecendo até a versão infantil de Ashtar Sheran, com o perdão da comparação. Ou dos clássicos desenhos espalhados pela internet de pessoas que seriam híbridas de humanos com extraterrestres.

 

híbridos

Fonte da imagem: https://i.pinimg.com/736x/5e/b5/56/5eb556cb1b6d225e614ffa0ae1c2442b.jpg

Mas acho que só Norman segue esse padrão, enquanto Ray tem a lá Uchiha (perdão pela comparação!), sendo retratado psicologicamente também bem próximo ao clã: primeiramente como um traidor, introspectivo, que só pensa em si mesmo e em poucos amigos, mas que no fim, ajuda aos demais e, se disponibiliza a se sacrificar por todos seus irmãos.

Voltando, um pouco, dos livros a que as crianças tem acesso na biblioteca da Casa, inclusive se obtém códigos supostamente deixados por uma pessoa que existe fora dos muros da casa, a respeito da fábrica e da possibilidade de fuga. Iria dizer que as mensagens não fornecem maior apoio às crianças no final, mas na verdade elas foram responsáveis por fomentar a esperança de que haja uma vida possível e melhor além daquelas fronteiras intransponíveis do hexágono.

Posso, por fim, concluir que o anime gira em torno dos laços de família e amizade. No mais, a abertura e o encerramento são lindos e muito significativos. Ah, e porquê eu disse no primeiro post que The Promised Neverland é uma vivência otimista, apesar do contexto distópico? Por causa de Emma, a personagem que sempre estivera feliz antes de descobrir a verdade e, após, nunca perdeu a esperança de que seus planos pudessem dar certo, para salvar não só a si, mas a toda sua família. E que possamos também ser um pouco como ela, apesar da triste e surreal realidade (quase distópica) que estamos vivendo.

 

Para ler mais curiosidades de The Promised Neverland, clica aqui.

(imagem do site do Jovem Nerd)

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