Eu, Tu e Ela | Sobre relações e julgamentos

Sábado à noite. Chuva. Ninguém pra sair. Combinação perfeita para Netflix! Mas o quê assistir? Quero algo “cabeça”, que me acrescente algo, mas não me deixe chorar mais que 1 litro, que me faça refletir e rir. Algo pra me inspirar! E encontrei: Eu, Tu e Ela.

Estamos em tempos de parada gay, artistas e anônimos conversando sobre gênero em todos os aspectos, grande mídia e jornais independentes abordando o tema de diversas maneiras. E, ainda, a série é considerada ousada e polêmica por falar de poliamor e bissexualidade. Para mim, não há dúvidas de que podemos trocar ideias ou beijos, transar ou rir com alguém que nos faça bem, desde que seja recíproco. Então, pra não ser repetitiva, não é exatamente de orientação sexual ou estilo de relacionamento que vim falar hoje. 😉

O que me chamou a atenção neste seriado é a cumplicidade, confiança e disponibilidade presente entre as personagens. (Quando fui buscar alguma imagem para este post, digitei “cumplicidade” e apareceu apenas fotos de seres humanos sendo beijados por cãezinhos fofos. Será um sinal de que devemos resgatar algo em nossas relações humanas?) E o melhor: sem julgamentos que prejudiquem a relação.

Costumamos falar da busca de relações mais “verdadeiras”. Mas porque entre aspas? Qualquer relação existe – seja feliz para sempre, abusiva, com prazo de validade, colegas e só, amizades de vida inteira em 1 semana, vizinhos que trocam palavrões, Tinder. Enfim, toda relação é verdadeira. O que podemos nos atentar é em qual tipo de relação é aquela em que ambos crescem, estão disponíveis, conectados e sem a presença de grandes julgamentos e vereditos.

Falei deste tipo de relação nesta e nesta outra coluna. Hoje, queria exemplificar com uma cena que me marcou bastante.

Atenção: contém semi-spoilers! E um pouco de inveja boa 😀

 


(T:1|E:4) Resumo da cena: Izzy e seu (não apenas) cliente Jack estão se pegando no apartamento em que ela vive com Nina. Lâmpada quebrada. Regra de não levar clientes para casa quebrada. Nina chega, dá uma olhada na casa bagunçada e pega os dois no flagra. Logo após o casal se recompor, Andy, o caso de Izzy e que gosta muito dela, chega ao apartamento.  Mesmo muito irritada com toda a situação, Nina ainda defende a amiga e ajuda a disfarçar o que havia ocorrido para não prejudicar o (nem tão certo) relacionamento de Izzy e Andy.


 

Achei essa cena muito significativa para mostrar um pouco daquele #tamojunto que a gente tanto gosta. É a ideia de se irritar, sim! Demonstrar isso, sim! Falar palavrão ou dar uns petelecos na orelha também são permitidos com moderação. Mas também se reconhecer no deslize do outro, culpabilizando apenas a ação dele, não ele inteiro.

Isso mesmo: podemos julgar sim! Mas julgar no sentido de pensarmos mal de algo que tenha nos tocado – justamente de algo, não de alguém. Isso também significa que esse pensamento não deve estar fechado em si mesmo, com conclusões guiadas apenas por sua própria pessoa. Acerca de estar aberto dialeticamente para o que vem e para o que o outro pode te acrescentar, já disse Heráclito, Google e outros anônimos: Nada é permanente, exceto a mudança.

Essa relação Eu-Tu, proposta por Martin Buber (que falei na última coluna), que diz da importância e riqueza da troca de ideias e experiências entre pessoas, e extende o potencial e liberdade do outro ao infinito. O Psicodrama, abordagem com a qual trabalho e filosofia de vida que tento seguir, nos ajuda bastante a promover essas relações e cultivar um mundo que se escuta e se compreende mais, em que podemos nos permitir mudar de ideia sempre que precisarmos.

 

Na próxima coluna (06/09), irei falar sobre relações e cenas de filmes. Conhece Almodóvar? 😀 Aguarde!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *