Prioridade: A arte do Encontro

A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida

Prioridade

Prioridade, em minha etimologia inventada, vem de préhora + Hades. Hades, relembremos, é um Deus relacionado ao submundo, à morte; p vem de uma atitude anterior à prática, ao ato em si; hora simboliza o tempo esperado passivamente para chegar à uma solução. Prioridade, assim, seria a possibilidade, a potência, de realizar uma escolha que (claro) abdique das outras escolhas, mas possivelmente sem a devida reflexão nem intenção.

Ter prioridades então seria algo ruim? Não, com certeza não! O perigo está em quem “elegeu” quem: a prioridade foi algo escolhido por você, ou ela surgiu na circunstância e você a pegou por estar mais à mão?

Um almoço com amigas é marcado. Segunda não posso. Terça é rodízio. Quarta vou ver namorado. Bora quinta? Marquei happy hour com o pessoal do trabalho. Marcado sexta-feira. Comi algo que me fez mal, não posso ir hoje. Vamos jantar? 19h. 19h30. Não vou conseguir chegar a tempo, tá muito trânsito! Quando você estará de novo na cidade? E mais 6 meses até (des)combinar outro encontro.


“A gente marca um dia” ad infinitum. Claro, ninguém que eu conheça prefere uma dor de barriga ou ficar trânsito ao invés de se encontrar com alguém querido. Mas a prioridade aqui deve ser outra: tentar fazer acontecer.

Quando duas pessoas se enxergam, sabendo que são diferentes, mas que podem compartilhar diversas coisas e aprender com essa troca, estamos falando da arte do Encontro. Encontro com E maiúsculo! A definição é de Martin Buber*, mas a etimologia é minha novamente: Encontro vem de em (no) + corpo + troca. Ou seja, temos um Encontro quando estamos presentes de corpo e alma, disponíveis para o outro. E o que é a disponibilidade senão a escolha de se estar junto a alguém?

A arte do Encontro

O Encontro transforma e faz crescer. Nos desenvolvemos como indivíduos transformados e transformadores ao compreender um pouco mais do outro.

E quando o tal almoço não acontece, a sensação pode ser de menos priorizada e menos enxergada como alguém que contribui para seu próprio crescimento e o do outro, numa troca. As potencialidades continuam em stand-by até que possamos exercê-las em algum Encontro propiciado pelas tais prioridades – essas, sim, com a reflexão e disponibilidade de ambos.

  • Martin Buber foi um filósofo que influenciou diretamente o Psicodrama, abordagem que promove Encontros e relações mais empáticas. Sou co-fundadora do Grupo 3 de Nós, que trabalha diretamente com o Psicodrama em workshops e eventos 🙂

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