ALMODOVAR. Quem?!
Espanha. Voz. Polêmica. Para mim, essas palavras ajudam a mostrar um pouco de quem é esse diretor de cinema.
FALE COM ELA. Com quem?!
Silêncio. Relação. Polêmica. Essas três mostram um pouco do meu filme preferido de Almodóvar.
Bora falar um pouco do filme e das nossas relações?
[Alerta de semi spoiler! Essa coluna contém revisitação de questões do filme que até podem diminuir sua surpresa com a história, mas que com certeza farão você querer ver o filme sob um outro ponto de vista :-)]Benigno é um enfermeiro apaixonado e obcecado por Alicia desde que a viu dançando balé em uma escola de dança em frente a seu apartamento. Eis que a jovem sofre um acidente e fica em coma. Benigno e uma colega são contratados pelo pai de Alicia, que nada sabia da obsessão dele pela filha, tendo as funções de cuidar da paciente. Benigno conversa e cuida de Alicia todos os dias, cobrindo plantões dos outros enfermeiros e criando uma ligação muito forte com ela.
Almodóvar traz muito sobre a gente, ser humano, nosso sofrimento e angústia, nossos paradoxos. Fale com ela fala de um ser humano chamado Benigno, que faz escolhas polêmicas, mas que também come, sente, ama, cuida como qualquer outro ser humano (lembra da coluna passada sobre relações e julgamentos?).
Os encontros e desencontros nesse filme – e a arte imita a vida! – mostram a importância que Alicia tem para Benigno, que um indivíduo tem para o outro. A gente só existe quando tem está em relação.
Benigno vive intensamente os instantes com Alicia, cuidando e conversando com a moça, que também de alvo de atitudes obsessivas. E isso que me instiga: quais são os limites de uma relação?
Sem o Tu não há o Eu – não se pode haver um encontro de apenas uma pessoa! Nesta coluna aqui , abordei o Encontro como uma troca potencializadora entre duas pessoas. Benigno, que parece estar em perfeita sintonia com sua amada, na verdade está tratando ela como algo, não como alguém. Não podemos ter um encontro em que não há troca.
As vontades de Alicia brotam para o enfermeiro como se tivessem sido ditas. Em Fale com Ela, as palavras são mais que comunicação, elas dão vida a cada relação que vivemos dentro e fora do filme. São limite, são potência, são a própria relação. Falam de sentimentos, daquilo que não ouvimos e daquilo que queremos. Falam da relação ou do desejo de uma relação.
As palavras deixam ser apenas letras e sons e dizem muito sobre nós. Cássia Eller me ajudou nessa: Palavras não são só palavras. São momentos, relação, ação!
Na próxima coluna falo mais de Fale com Ela 🙂 Desta vez, da relação e do silêncio. Até lá!
