Educação em linha de produção
Em 1913 Henry Ford desenvolveu o método de produção em linha, tornando a produção de automóveis, e posteriormente da maioria dos produtos que consumimos, mais rápida, mais barata e eficiente. Desde então aplicamos a metodologia da linha de produção nos mais diversos meios, inclusive na educação formal de nossas crianças.
Padrões são importantes para garantir tratamento justo e igualitário para todas as pessoas. Padrões são importantes para que não se pule etapas, nem se esqueça de coisas que não podem ser esquecidas. Procedimentos de rotina auxiliam os mais diversos profissionais chagando inclusive a salvar pessoas, considere nesse caso o padrão de higienização dos hospitais, uma placa avisando que o piso está molhando quando alguém está limpando um local de circulação de pessoas para evitar quedas, etc.
Minha cria mais nova, de dois anos, começou essa semana a frequentar a creche publica do bairro. Havia um formulário padrão, uma apresentação padrão das instalações e nenhum espaço para questionamentos tendo todas as duvidas sido tratadas com descaso e consideradas como ansiedade materna pela separação. Não houve nenhum momento em que eu pudesse conversar com a pessoa que começará a cuidar dela e fazer alguma apresentação da minha filha. Duas estranhas que não sabem nada uma da outra passarão a conviver 9 horas por dia juntas. Com 15 minutos de conversa para apresentar as duas e contar um pouco sobre a criança que passará a ser atendida muitos problemas de adaptação podem ser evitados, ajudando a criança e a família a se sentirem seguras e facilitando o trabalho do cuidador.
O período de adaptação consiste em 3 dias em que a criança fica menos tempo no local, nenhum familiar pode acompanhar, e depois de três dias a criança passa a ficar o período integral. Mas isso não respeita a individualidade de cada criança, algumas podem não precisar desse tempo, outras precisarem de mais, algumas podem se sair melhor com alguém de confiança junto e ainda que uma de nossas funções seja preparar as crianças para a vida adulta é necessário respeitar o tempo de seu desenvolvimento cognitivo e capacidade de compreensão para que quando adultas, nossas crianças não se tornem ansiosas e inseguras. Deixar chorar, obrigar a ficar num espaço desconhecido sem respeitar o desenvolvimento emocional de cada criança e desrespeitá-la como individuo, atesta que suas emoções e desejos são válidos apenas na vida adulta.
Por outro lado, nosso sistema educacional é saturado, os profissionais são considerados capacitados apenas por possuírem um diploma, e uma faculdade de pedagogia não ensina a cuidar de crianças e sim como funciona o processo de assimilação e como podemos tornar os ensinamentos que precisamos passar mais fáceis de serem compreendidos. Então como preservar o espaço para a criança sentir, se expressar, se adaptar à realidade escolar e ao mesmo tempo educá-la?
Muitas escolas, inclusive publicas, são reconhecidas por seu trabalho diferenciado e obtenção de resultados fora do índice local. Esses espaços têm algo em comum: Direção.
Quando a equipe gestora da unidade é engajada e se esforça em promover um trabalho diferente é possível observar o efeito cascata que isso promove nos demais funcionários e consequentemente nas crianças e famílias. Não há uma fórmula ideal, pois quando falamos em educação é preciso considerar diversos fatores, como a história local, realidade sócio econômica, verba. O que torna a ressignificação dos espaços educacionais difíceis, lentas, e complexas.
A mudança na rotina mecânica que nós vivenciamos e nossos filhos vivem atualmente não têm como começar por baixo, a família é uma das pontas mais frágeis dessa relação. É preciso investimento publico real, avaliação dos profissionais ativos, novos sistemas de treinamento de seleção de outros profissionais e um envolvimento social que tem caminhado a passos curtos, mas já possui representantes lutando por melhorias.
Para muitos pode parecer que a cobrança por cursos superiores que preparem melhor o profissional seja suficiente, mas quando um prédio está em ruínas você não pode começar a restauração pelo telhado, começa-se sempre pela fundação.
Nossas crianças precisam de base sólida, para se desenvolver, pautada em respeito e cuidado. Não adianta esperar que quem cresceu sem ser ouvido saiba ouvir, que quem cresceu sem voz saiba falar. Só é possível plantar em terreno fértil
