Dores, como cuidar da dor de amor?

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Dores, como cuidar da dor de amor?

De tantas coisas que me amedrontam, uma das que mais me assustam é sofrer por amar alguém que foi embora ou que nunca esteve comigo. Escolher não sofrer é um passo dado inúmeras vezes, mas sustentar lágrimas durante uma lembrança é para peritos na arte do se preservar. Existem tantas dores. Ao doer meu estômago, coloco meus braços sobre ele, para que sinta minha proteção, embora eu não me lembre disso ao tomar uma coca-cola. E a dor do amor? Que órgão proteger? Dizem que é o coração. Em mim dói do metatarso até o hipocampo, onde as memórias são formadas, o que retroalimenta a dor em meus pés.

Há uns meses uma amiga estava tão triste quanto eu. O choro dela era de cortar qualquer coração, menos o do homem que a deixou, porque pessoas que vão embora estão decididas, e ninguém demove as certezas do desamor. O sofrimento de minha amiga doía em mim, e achei que ela, por não fazer terapia, tinha de procurar ajuda urgentemente. Forcei-a a ir a uma sessão do Mada (Mulheres que Amam Demais), fiquei em casa na expectativa e liguei assim que terminou. Com uma voz bem animada, ela me disse que estava ótima. Depois de ouvir tanto sofrimento, entendeu que não tinha problema nenhum. E seguiu. Outros amores vieram.

Faço terapia, faço exercícios físicos, tenho amigos, tenho carinho, tenho uma cama confortável e chás importados. Por que diabos sofro tanto por alguém que não quer estar comigo? “Preciso de um choque de realidade para ficar tudo beleza de novo”, pensei. Decidi ir ao Mada para ouvir o problema das outras e resolver o meu. Pois. Se eu tinha um problema, agora tenho 17. Como mulheres sofrem. Chorei por quem apanha do amante, por quem ama desesperadamente um homem que nem sabe que ela existe, pela mulher que ama o irmão do marido… Nunca mais vou dormir. Que pesadelo dos amores!

“Não morra!”

“Não seja preso!”

“Não se apaixone!”

Três regras básicas do rolê por aqui. Tento não morrer todos os dias. Como legumes e verduras. Evito frituras. Bebo dois litros de água. Terapia e medicamentos, para evitar pensamentos suicidas. Faço exercícios funcionais para manter o corpo são. A minha maior contravenção foi ter uma carteirinha de estudante falsa. Foi um delito simpático, afinal tudo o que eu queria era consumir mais cultura, entretanto, a ideia de ser uma aberração moral me perseguia, e naquele ano praticamente só fui a eventos gratuitos no Sesc.

Quanto a me apaixonar… Merece um parágrafo só para ele. Minha reincidência comprova um vício. Sou julgada e condenada pelo meu crime, recebo a sentença e pago o preço da dor, no entanto, flerto com o perigo de novo. Sob o discurso de que será diferente, lá vou eu lambuzar minhas mãos como uma bandida pé de chileno, que escolhe ladrão tinhoso que leva o coração facilmente. E morrer de amor passa a ser tão factível. Apaixonar-se arruína qualquer regra.

A boa-nova é que decidi secar as lágrimas e parar de lamentar o golpe do último ladrão. Meu amor ficará com ele da maneira reluzente que foi.  A luz ficará sem direção, como são as luzes difusas. Sem alimento, o clarão enfraquecerá. Logo o brilho desaparecerá. Se estiver atento, ele perceberá que ficou com a lamparina, que um dia poderá deixá-lo radiante como fui na lucidez.

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