Sobre evoluir sem se perder…

É fato: estamos em constante modificação. Vivemos nos adaptando para que sejamos inseridos onde entendemos que merecemos pertencer.

Acontece que muitas vezes a gente se esconde atrás de quem gostaria de ser por medo de assustar ao outro, por medo da transparência sobre quem somos atravessar as cores intensas de quem gostariam que fossemos.

Vivemos inúmeras vezes carregando nas costas o peso de perder pessoas, vejam bem: tomamos posse de outras vidas e na maioria das vezes a outra parte nem assina o contrato de venda. Nos ensinaram que o amor seguro é algemado, embora nos dias atuais viver na condicional seja sem sombra de duvidas, extremamente válido. Não somos donos da verdade. Não somos donos das pessoas. Não somos donos do coração em que gostaríamos de morar.

Acabamos perdendo nossas identidades ainda que nos sintamos sós na presença do suposto amor das nossas vidas (dessa vez). A gente sempre projeta que é a primeira vez (por que um amor novinho em folhas faz bem demais) e a ultima (por que a gente insiste que se algo nos deixa felizes deve ser definitivo), e passamos até a acreditar no famoso para sempre.

Sou movida a entregas. Sempre priorizo o brilho nos olhos e o sorriso largo no rosto de quem eu defino de modo muito particular que deve “correr comigo” (por que sim, a vida nos engole se a gente não se movimenta). Mas eu anulo escolhas, anulo possibilidades, acabo tropeçando nos meus próprios cadarços para não atropelar as pessoas que há pouco tempo estavam ao meu lado, mas eu dei um jeito de colocar a frente. Doce ilusão a de quem acha que a gente faz isso para nos blindarmos, a gente faz isso por que quer que as pessoas alcancem o pódio (ainda que tenhamos projetado somente mentalmente isso).

É muito fácil falarmos sobre extinguir expectativas quando na verdade,nos esquecemos que essa coisinha nos acompanha desde quando estamos na barriga das nossas mães; expectativa sobre o sexo, sobre o futuro, sobre profissão, sobre as nossas escolhas. Somos movidos as expectativas nuas e cruas.

Acabamos romantizando nossas relações no intuito de fazer com que as pessoas permaneçam em nossas vidas, que permaneçam nos inserindo socialmente em algo que provavelmente nem temos obrigação de fazer parte.

Não usamos determinadas palavras, abortamos a missão roupa confortável, abolimos palavras aconchegantes do vocabulário. Deixamos de ser para que notem quem gostariam que fossemos.

Até quando nossas entregas nos custarão a identidade construída até aqui? Quando é que as pessoas irão aceitar as nossas escolhas e procurarão se encaixar em nossas historias sendo virgulas? Quando vão nos apoiar a inserir ponto e virgula e continuar a construir quem somos a partir de que realmente gostaríamos de nos tornar?

Reforçando: é importante que saibamos também que nenhuma entrega é vã, desde que se aprenda algo com elas. Que seja nos posicionarmos mais, ou até mesmo fazendo por nós o que estamos sempre dispostos a fazer pelo outro.

Desejo que a gente jamais pense que é impossível respirar sem alguém. Que a gente se encontre de forma tão natural a ponto de mudanças se transformarem em dadivas despercebidas. Que a gente se torne plural sem nos sentirmos órfãos de quem costumávamos ser. Que a gente  finalmente se perca no infinito de quem sabemos que podemos ser.

 

 

 

imagem: @umcartao

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *