Setembro Amarelo | Suicídios acontecem em um único mês

Suicídios acontecem em um único mês?

O Setembro amarelo está no fim, atrelado ao dia 10/09, dia mundial de prevenção ao suicídio, a campanha que termina seu terceiro ano tem por objetivo alertar e informar as pessoas sobre questões relacionadas ao suicídio no Brasil.

Muitas pessoas e entidades se manifestaram em apoio à causa, os canais de atendimento do CVV, centro de valorização da vida, através da internet e do telefone 141 foram amplamente divulgados. Pessoas compartilharam histórias, guias de como pedir ajuda e de como oferecer ajuda foram escritos e divulgados.

Comunidades repetiram milhares de vezes que suicídio não é sobre acabar com a vida, mas sobre acabar com a dor, e ainda uma ultima manifestação de poder e autonomia, ficando a cargo dos motivos da depressão que levou cada pessoa ao suicídio.

As descobertas da ciência e da medicina, o avanço tecnológico e as conquistas sociais que nos trouxeram melhores condições de vida também aumentaram nossa expectativa de vida, e mudaram nossa perspectiva diante da realidade, atualmente sabemos como outras pessoas e comunidades vivem e podemos acompanhar muitas pessoas quase em tempo real através das redes sociais. Esses fatores são apenas alguns dos que colaboraram para o aumento de incidência da depressão entre os indivíduos.

E a depressão hoje está por toda parte.

É a pessoa gorda que em todos os meios vê somente pessoas magras serem retratadas com complexidade, como pessoas felizes, bem sucedidas, afinal em quantos programas televisivos gordos são retratados apenas como o alívio cômico?

É a pessoa pobre, que não teve condições de estudar nem melhores oportunidades de emprego vendo a farsa da meritocracia estampada em cada esquina.

É o gay rejeitado pela família religiosa.

São as milhões de pessoas ensinadas diariamente a tentar mudar desesperadamente aquilo que são para se encaixar no interesse de poucos. São parâmetros sociais que ditam qual o cabelo mais bonito, tom de pele, altura, peso, medidas, estilo, nível de conhecimento, tipo de alimentação, tipo de exercício físico, posicionamento politico, cifras na carteira… O tempo todo somos forçados a nos reconhecer como inferiores e ter o máximo de esforço para mudar nossa própria natureza em nome de um padrão difícil de combater.

Associada a pressão social existem também as desordens fisiológicas do nosso corpo que favorecem o aparecimento da depressão nas pessoas, inclusive naquelas tidas como bem sucedidas e dentro do padrão. Temos artistas das mais diversas áreas que nos provam isso, pessoas invejadas, de sucesso, com alto poder aquisitivo, rodeadas de outras pessoas, ou no emblemático caso de Robin Williams, um artista da comédia, alguém constantemente lembrado por nos fazer rir, que sucumbiu em sua própria dor e pôs fim a ela quando não suportou mais.

Um estudioso dos EUA quis entender porque a incidência de depressão parecia muito maior em pessoas ricas, ele então percebeu que o que ocorre é que é mais fácil reconhecer a fadiga, tristeza, falta de animo e outros sintomas característicos da depressão em pessoas que não aparentam motivos para se sentir assim. Afinal, entre as pessoas mais pobres é esperado tais sentimentos por entender que a vida dessa pessoa já é ruim e que ela não teria motivos para se sentir bem, então a depressão é tratada apenas como uma consequência da vida que a pessoa leva, atribuindo tratamento apenas as pessoas que ‘não deveriam se sentir assim’, escancarando ainda mais o elitismo presente até mesmo nos diagnósticos médicos.

Há também os grupos de risco, indivíduos mais propensos ao suicídio, ente eles jovens, devido a montanha russa hormonal própria da adolescência e pressões sociais dessa época da vida; idosos acima dos 75, que muitas vezes abandonados pela família e doentes não enxergam mais proposito em viver; Pessoas que passaram por divórcio, viuvez ou com grande dificuldade em se relacionar com outras pessoas romanticamente; profissionais da saúde que estão constantemente rodeado de doenças e mortes; desempregados e ateus. Isso tudo considerando também valores culturais, regiões em que idosos são valorizados pelos seus conhecimentos e experiência de vida têm menor incidência de suicídio entre esse grupo. Países com renda básica têm menor incidência de suicídio entre desempregados, etc;

Suicídio é um assunto complexo e doloroso, a vida é tratada como assunto sagrado e qualquer menção a por fim na própria leva o individuo em sofrimento a julgamentos cíclicos tão aprofundados que associados com o desinteresse em ser impedido que concluir seus intentos a pessoa dificilmente procurará ajuda.

Suicídio e depressão são assuntos sérios, e precisam de bem mais que um mês de consciência para serem debatidos e tratados. Não é sobre religião, ou a falta dela. Não é sobre um coração partido, ou a falta dele. Não é sobre qualquer coisa que exista ou deixe de existir. Suicídio é o ultimo e derradeiro sintoma da depressão e depressão é problema de saúde. Músculos definidos são legais, mas você já ouviu falar de saúde mental? Mente em ordem é o que há de melhor!

Vamos fazer setembro durar o ano inteiro.

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