A Cura – Do que precisamos ser curados?

A CURA – De que cura de fato precisamos?

Nos últimos dias as redes sociais se agitaram por conta de um juiz do DF que supostamente teria afirmado que a homossexualidade é uma doença. A partir da notícia dada nesse sentido, inaugurou-se todo um movimento de repúdio à referida decisão judicial, bem como de apoio aos homossexuais que, por conta disso, teriam sido taxados de doentes.

Quero registrar que, de toda forma, antes de que eu mesma seja bombardeada com ataques imerecidos, não acredito que a homossexualidade seja doença. Eu lá tenho tempo de me preocupar com quem os outros amam? Mal dou conta da minha própria vida, diga-se de passagem. Além disso, quem sou eu para julgar as outras pessoas?

Confesso que eu julgo mal os pedófilos e quem pratica zoofilia, pois isso, de fato, não me parece justo, já que envolve quem não tem condições de consentir ou se defender. Também confesso que tenho os meus julgamentos íntimos e desfavoráveis sobre alguns tipos, mas daí a desperdiçar meu tempo finito nesse mundo para avaliar se alguém pode ou não amar quem quer amar, já é coisa que não me permito. Para além disso tudo, outrossim, a quem interessa minha opinião? Só a mim mesma os meus valores, sentimentos e juízos devem importar.

Há algum tempo venho traçando a seguinte regra para os meus atos e para o que penso dos atos alheios, naquilo que me é permitido pensar: Se o que faço não prejudica a vida de outra pessoa, só a mim mesma, a minha consciência e ao Criador é que deles devo prestar contas. Idêntico direito, portanto, assiste aos demais. Assim como o amor do outro não me machuca, o ódio que eu tiver poderá machucar ao meu próximo.

Mas voltando à ideia central desse texto e feitos esses esclarecimentos, é preciso dizer que muita gente saiu gritando à toa, rebelando-se sem justo motivo, pois a decisão do juiz, mencionada acima, não teve o teor alardeado. De acordo com uma leitura mais atenta e técnica da decisão, o que se pode verificar é que longe de chamar alguém de doente, sequer houve qualquer juízo de valor nesse ou em sentido parecido.

O magistrado tão somente decidiu que, a despeito de uma portaria específica, os psicólogos que fossem procurados por pessoas que voluntariamente (frise-se!) quisessem receber tratamentos relativos à reorientação sexual, pudessem atender tais pessoas sem sofrerem punição por isso.

Se as pessoas podem ou devem buscar um psicólogo para lidar com seus conflitos sexuais, psicológicos ou da ordem que forem, já é outro tema, o qual não se discute aqui, mas igualmente não se fez na sentença. O que entendeu o juiz, ainda assim em uma decisão provisória, ou seja, que pode ser alterada inclusive por ele mesmo, é que não faz sentido o psicólogo não poder exercer sua profissão de forma livre, impedido de orientar os que as suas portas bater. Vejam que é bem diferente de dizer que os gays são doentes.

Concordo que, fosse esse o verdadeiro teor da decisão, sem dúvida seria algo, no mínimo, descriminatório. É preciso que as pessoas façam valer os seus direitos, que defendam suas causas, mas é preciso comedimento, até para não se sair falando abobrinhas por aí, pois a mentira é bicho cruel e se aumenta da importância que lhe dão!

De outra banda andamos mesmo precisando de cura, a cura para a fofoca, para a maldade, para a intolerância, para a soberba, para a crueldade, para a falta de respeito pelas escolhas, opções, aparências, crenças, entre outras coisas, eis que essa lista é infelizmente muito vasta. Nós priorizamos o externo, as formas e nos esquecemos de que, sob esse amontoado de coisas que agregamos, embaixo dessa carne que nos prende ao terreno, somos somente essência, apenas uma ligeira fagulha de vida, tão tênue quanto as linhas que tracei nesse papel…

Cinthya Nunes

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