São as diferenças ou semelhanças?

diferenças ou semelhanças

A primeira vez que fui ao estádio assistir meu time do coração foi minha mãe quem levou. Sim, minha mãe. Uma mulher, mãe, mulher, esposa, mulher, dona de casa, mulher, torcedora fanática e, pasmem, mulher. Eu tinha pouca idade e não reparava muito nas pessoas, reparava só na massa. Nos iguais lado a lado, com um amor incondicional pela aquela equipe para quem todos ali torciam. Entendi que aquilo era o elo, e a única coisa que realmente importava da porta do estádio pra dentro. Muito bem, cresci, e como diversas outras coisas, isso ficou complexo.

Comecei a perceber, que havia pessoas que eram como “donos do pedaço”, ou melhor, se auto intitularam “donos do pedaço”. E então essas pessoas ditavam regras sobre como eu, minha mãe, meus amigos deveriam se portar, como deveriam se vestir, se poderiam estar ali e quando poderiam. Embora existam tantas mais, consigo pensar em regras básicas:

Mulheres:

  • Não podem ir a qualquer jogo
  • Não podem usar short, e se usarem, não podem reclamar de assedio
  • Devem ter um homem ao lado

Gays:

  •  Não podem estar ali

 Público geral:

  •  Não podem usar nenhuma camisa, ainda que da equipe em questão, que são tenha somente as cores que a representam.
  •  Não podem ocupar determinados espaços do estádio

E foi aí que concluí, que embora aquelas pessoas devessem estar ali unidas pelo amor ao clube, que é aquilo que realmente as trouxe ao estádio, elas ali estão também porque são diferentes. Porque são homens, porque são heteros, porque são “mais torcedores” que os demais e isso não os permite ceder o espaço que acreditam a eles pertencer a mais ninguém.

Então eu rompi com um dos grandes amores da minha vida, e minha mãe que partilha esse amor, também rompeu. Hoje partilhamos a paixão basicamente uma com a outra. E confesso que não é de todo ruim, mas sonhamos, as duas juntinhas na frente da TV, o dia em que as semelhanças forem mais importantes que as diferenças, o dia em que o escudo no peito da nossa camisa for mais importante do que quem o está carregando. Hoje existem diversos movimentos sobre diversidade nos estádios, e é um começo. Acredito nessa luta e luto para quem sabe um dia eu possa novamente pegar minha mãe pele mão e leva-la ao estádio sem medo de absolutamente nada, sem precisar rezar uma cartilha de orientações, sem precisar lembra-la que embora semelhantes, lá estarão os diferentes.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *