O medo do escuro

Como muitas crianças, tive medo do escuro. Acreditava que, assim que ia dormir, o bicho papão sairia de baixo da cama para me assustar e me levar embora. Conversar com minha mãe sobre isso, esse medo que não me deixava dormir, não adiantava, por isso, optamos usar abajur no quarto todas as noites.

Ele me salvou durante anos.

Aos 14 anos reformaram meu quarto: guarda-roupa enorme, pôsteres pelas paredes e uma nova escrivaninha – todas as minhas características estavam no novo cômodo. O abajur continuava ali, do meu lado, juntos com os livros. Eu olhava para ele e prometia que aquela noite seria a última dormir com a luz ligada, afinal, meninas em crescimento não usam isso.

Toda noite, a promessa era quebrada.

Quando completei 15 anos, decidi fazer o teste de dormir sem luz, no quarto silencioso. Senti minhas mãos suarem, meu coração disparar e a garganta ficar seca. Naquela noite, não preguei o olho e fiquei em silêncio, agarrada ao travesseiro e esperando que alguém me salvasse.

Salvar do que?

O bicho papão, criado na infância, estava ali do meu lado, mas com outra forma e força. Seu nome era ansiedade, mas seu amigo, o pânico, também aparecia. Ele não era mais uma imaginação: tornou-se real. Aparentemente, eu vivi com esse monstro há anos, mas só no crescimento me dei conta do quão forte ele era em minha vida.

Era eu ou ele.

É difícil conviver com algo que quer te derrubar e te faz ter pensamentos pessimistas, por isso, resolvi voltar para terapia. Foram três anos conversando com uma profissional, tendo dias bons e ruins, tudo e nada. Apenas dois anos mais tarde, aos 17 anos, eu consegui dormi com a luz apagada. Entretanto, mais tarde, colei algumas estrelas que brilham no escuro para me dar algum conforto.

Hoje, aos 22 anos, continuo tendo receio do escuro. Não do escuro propriamente dito, mas da ansiedade, do pânico, de desistir. Se ele apareceu cedo, pode voltar mais tarde, certo? No meu quarto não tem mais abajur e nem adesivos que brilham no escuro, mas tem um mantra que diz tudo vai ficar bem – mesmo que demore. O mantra diz que devo trabalhar a mente todos os dias para vencer o medo, e faço isso com garra.

É normal ter medo do escuro, mas não deixe que ele tome conta de sua vida. Você é mais, eu juro.

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