(SOBRE)vivendo com a dor

vivendo com a dor

Doenças crônicas são devastadoras. Vão acabando com cada pedacinho de alegria que exista no nosso ser. Eu tenho Fibromialgia, fui diagnosticada há mais ou menos dois anos, a doença se manifestou quando minha avó desencarnou, acho que eu não soube lidar com a dor e ela se manifestou fisicamente.

Desde então vem sendo uma luta, dia após dia, para não deixar a dor me vencer.

E não é uma luta fácil…

A Fibromialgia é uma doença psicossomática, ou seja, o psicológico está diretamente ligado ás crises de dor, no meu caso vários fatores físicos também interferem, mas o psicológico judia demais.

A gente entra em um ciclo autodestrutivo muito difícil de sair.

Depressão gera dor > a dor deprime < depressão gera dor.

É uma sensação de se afogar na dor, não adianta tentar nadar, bater os pés e as mãos, é inútil, você é puxado para baixo e mais uma vez engole litros de dor, respira dor, seu corpo quer desistir, e é assim por dias, as vezes por semanas, estou assim há mais de um mês.

A dor é sempre muito subjetiva, é impossível comparar a minha dor com a sua dor, nunca serão iguais nem percebidas do mesmo jeito.

Sempre que me perguntam o que eu sinto eu respondo da mesma maneira: Sabe quando você bate o dedinho na quina do armário? Então, sinto aquela dor, mas em todo o meu corpo e todo o tempo. Sempre dizem que estou exagerando, eu queria estar exagerando, eu queria que tudo isso fosse um xilique meu, mas não é. Sinto uma dor que me faz ter consciência de todas as partes do meu corpo, eu sinto dor na planta dos pés, nos dedos do pé, no pé, no tornozelo (ponto de dor mais forte), nas panturrilhas, nos joelhos, na parte externa das coxas, na parte de trás das coxas, na parte interna das coxas, na pélvis, muita mas muita dor mesmo nos meus quadris, que estalam e queimam o dia todo. Sinto dor na lombar (ponto de dor mais forte), nas costelas (hoje tá demais), dores abdominais, dor no externo (hoje tá terrível mesmo pra respirar), nos ombros e pescoço (ponto de dor mais forte). Sinto dor nos braços, antebraços (ponto de dor mais forte), nos pulsos, na palma da minha mão, em cada falange dos meus dedos, sinto dores na nuca, tem dias que o maxilar dói. É uma lista grande né, eu sei, e talvez eu até tenha esquecido de algumas outras partes do meu corpo que doem.

Não me pergunte como eu consigo conviver com isso porque eu não sei qual é a resposta.

Eu me sinto muito cansada o tempo todo. Mas não consigo descansar, relaxar, dormir, meditar, nada me deixa menos cansada. Já tentei exercícios e ando fazendo alongamentos, mas não resolve.

Michelle, você não toma remédio? Não. Por quê? Porque analgesia para mim só funciona em altas doses, o que me ajuda são substancias como Tramadol e Codeína, e elas são nocivas a longo prazo e além disso viciam. Logo eu, que nunca coloquei um cigarro na boca, nunca tomei um porre, nunca experimentei nenhum tipo de droga, eu não vou me permitir viciar nisso. Faça as contas, tenho 32 anos, estava tomando 30mg de Tramadol por dia para não ter dor, se a tendência é aumentar a dosagem, porque a resistência da dor ao remédio também aumenta, quanto eu estaria consumindo daqui há 5 anos?

Eu tenho planos! Muitos, porque eu sinto dor mas eu estou viva, estou (sobre)vivendo diariamente a tudo isso. Mas eu sonho que a bariátrica vai me ajudar, pois sem o sobre peso vai ficar mais fácil me exercitar, vou ter menos processos inflamatórios pelo meu corpo, tenho muita fé que isso vai me ajudar. Também quero ser mãe, e sei que isso vai me ocupar muito e que a dor vai para segundo ou terceiro plano.

Não é fácil, não é leve, não é bonito viver assim, e o pior são os julgamentos todos. Aprendi com muito custo a ignorar, como diz meu companheiro, “Sorria, acene e finja demência.” Tem funcionado.

E você, leitor que também sofre com dores crônicas saiba: você não está sozinho, e por mais que não haja uma cura ainda, há uma vida inteira pela frente, e eu decidi continuar vivendo, trabalho, ajudo meus amigos, não desconto minhas dores em ninguém. Viva um dia de cada vez, procure coisas que te façam bem, distraia-se, ame-se, e não desista do bem mais precioso que você tem: VOCÊ!

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