Não preciso me desculpar por ser mulher! Meu aluno se apaixonou por mim.

Estava debatendo com uma amiga a respeito da desonestidade das pessoas com as mulheres, sem mencionar o desrespeito imenso que vivemos diariamente.

Me veio a lembrança de um episódio que vivi no inicio da minha carreira: Um aluno se apaixonou por mim.

Toda professora que ainda não passou por isso, um dia vai passar. É mais comum do que parece.

A gente entra na sala de aula cheia de carinho em lecionar e fazer brilhar os olhos daquelas crianças que nos acompanharão por um ano inteiro e, consequentemente, uma criança, confusa em seus sentimentos, se vê apaixonado pela professora.

Eis que eu, linda e nova, cabelos roxos esvoaçantes, maquiagem suave e um sorriso no rosto, encontro minha primeira oportunidade de aplicar meus conhecimentos. Minha primeira escola, ainda muito jovem (e bonita).

E extremamente carinhosa, me dediquei aos meus alunos de periferia, salas difíceis, crianças carentes. Meia dúzia me chamando de mãe, me levando até a sala e eu retribuindo com balas e atenção.

Um aluno, 7ª série, me mandou uma carta dizendo que me amava. Desconsiderei, afinal, é um aluno, só mais uma criança confundindo a sentimento por conta da minha atenção. Como disse, sempre me dediquei aos meus pequenos, sempre fui atenciosa, carinhosa, criança feliz aprende melhor.

O mesmo me encontrou no mercado, me disse que era a melhor professora do mundo e que me amava. Sorri e agradeci pelo elogio e voltei às minhas atividades.

Outra vez, eu estava esperando o ônibus, me perguntou se eu queria ser sua namorada. Eu disse que não, que já tinha um namorado. Não houve insistência, mas vi a cara de insatisfação…decepção, pensei.

Duas semanas depois, mais ou menos, fui chamada na diretoria, onde fui acusada de “dar esperanças” de um relacionamento a um aluno, uma criança. Ouvi que poderia ser acusada de pedofilia (Oi?!) por ter me encontrado com um aluno fora da escola (encontrar ocasionalmente no mercado e no ponto de ônibus?).

Minha coordenadorA, sim, uma mulher, me chamou e me indicou um cabeleireiro que poderia tingir meus cabelos e me deixar com um “ar” mais responsável – e menos juvenil – que melhoraria minha imagem perante os alunos, que me tornaria melhor profissional. Fiquei chocada. Meus cabelos coloridos foi o responsável pela paixonite de um aluno e uma advertência.

EU fui culpada por um aluno se apaixonar por mim. Inocentemente aceitei a culpa, pintei meus cabelos de castanho, não usei mais batom e perdi o meu brilho. Eu quis me esconder atrás dos livros para evitar esse tipo de acontecimento.

E então me toquei: O que fez meu aluno se apaixonar foi meu Eu, foi quem sou, como dou aulas, como sorrio, como os trato e eu jamais trataria meus alunos diferentes com medo deles gostarem de mim.

Quando me toquei que havia perseguição da coordenadora comigo, resolvi trocar de escola. Pintei meus cabelos novamente da cor que tanto gosto, recuperei a minha auto estima e iniciei em outro colégio.

Demorei pra entender que o problema da coordenadora era comigo, demorei pra entender que queriam me moldar e me desmotivar, me apagar naquela escola.

Eu não tenho culpa por ser mulher, por ter amor pela minha profissão, por amar meus alunos e me dedicar a eles enquanto estou na sala de aula. Eu nasci mulher e mesmo que eu não faça nada, alunos vão se apaixonar.

Vão se apaixonar pelo meu jeito de dar aulas, pelo carinho que tenho e terão que entender a decepção. Eu sou a professora e um dia essa paixonite vai ser só história pra contar.

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