Eu não queria falar sobre SUICÍDIO

Eu juro que não queria falar sobre suicídio.

Era por volta de 17:00 hs da sexta-feira dia 11 de agosto de 2017. Eu estava na estação Ana Rosa indo para casa, mas, logo ao descer as escadas percebi que havia algo incomum acontecendo. Os trens estavam parados nas duas plataformas, luzes apagadas e as pessoas apinhadas dentro deles com feições de impaciência e curiosidade.

Que droga  hoje vai ser um transtorno chegar em casa, foi  que pensei. Logo tratei de entrar em um vagão que me coubesse para esperar o momento da partida, já que, assim como aquelas pessoas eu  também me sentia ansiosa para chegar em casa para meu merecido descanso.

Uma pessoa que tinha acabado de entrar perguntou se alguém já tinha avisado sobre o que estava acontecendo, todos negaram, não parava de entrar gente e eu, ia ficando cada vez mais “espremida”, foi quando o tão esperado anúncio aconteceu. Uma voz ecoou pelos alto-falantes:

Atenção devido a presença de usuário na via na estação de Vila Mariana a circulação dos trens está interrompida e, a energia está desligada, a previsão de normalização até o momento é de cinco minutos.

Todos que moram em São Paulo e que tem uma certa intimidade com o uso do metrô já sabem que esse anúncio na maioria das vezes significa “alguém se suicidou se jogando na frente do trem e, é por isso que paramos”.

De fato não durou muito mais que cinco minutos para a normalização do tráfego, mas, cinco minutos foram suficientes para que eu pudesse ouvir uma conversa entre uma pessoa muito mais jovem que eu e uma senhora que falava português com sotaque estrangeiro.

A senhora estava preocupada com o filho deficiente que havia ficado em casa, a pessoa dizia para a senhora que aquele anúncio significava que alguém tinha se suicidado  explicando que isso era mais comum do que ela poderia imaginar. Entretanto, o que de fato me chamou a atenção foram suas argumentações carregadas de firmeza e certa irritação a respeito do suposto suicídio “A  pessoa decide se matar às 5:00 da tarde no metrô só para atrapalhar a vida dos outros”, dizia ela, “Isso é para chamar atenção, para impactar” reafirmava, “Trabalhar e estudar ninguém quer” acrescentou finalmente quando novamente a voz ecoou informando que a situação já havia sido normalizada.

Presenciar esta cena me fez perceber o quanto nós precisamos falar e falar e falar e falar e falar novamente sobre o suicídio.

Eu fiquei me perguntando;

Quantos jogos da Baleia Azul, quantas séries 13 Reasons Why, quantos suicídios no metrô precisam acontecer para entendermos que essas pessoas estão clamando por ajuda?

Não, a pessoa que cometeu o suicídio não estava tentando atrapalhar o nosso retorno para casa, ela estava tentando acabar com a escuridão que tomou conta de sua vida de uma maneira tão profunda que não havia sequer um fio de esperança que a fizesse acreditar que valeria a pena continuar vivendo,  essa pessoa queria tanto ter certeza de que não voltaria mais para essa escuridão fria e solitária que escolheu um método à prova de fallhas.

Ou seja, ao contrário do que costumamos pensar o suicídio não é um ato de fraqueza, é na verdade o último ato de força daquela pessoa que na verdade está cansada, muito cansada de lutar, cansada de lutar contra uma doença mental, cansada de lutar contra os sentimentos de culpa que lhe invadem a mente 24 horas por dia,  cansada de lutar contra o próprio corpo, cansada de ter que esconder que toma remédios antidepressivos porque isso é sinal de fraqueza e falta de fé (é isso que ela ouve), cansada de tomar antidepressivos e não ver resultados, cansada de lutar para fazer você e eu entender que sim ela está doente e que isso não foi uma escolha dela, cansada de viver em mundo em que ela é culpabilizada por ter uma doença que jamais escolheria ter (afinal quem escolheria viver o inferno da depressão?), cansada de ouvir daqueles que supostamente a amam que ela precisa trabalhar e estudar, cansada de ouvir que ela não se esforça, cansada…cansada…cansada…cansada…

Eu poderia ficar aqui escrevendo páginas e páginas dos motivos pelos quais uma pessoa decide  cometer suicídio, mas, acredito que  o mais importante deles seja:

Um pesssoa que decide se matar acredita que a morte é a unica solução

Uma parte dessa crença de fato tem a ver com a depressão que a faz enxergar a vida por uma lente negativista, mas, a outra parte tem a ver com todos os pedidos de ajuda que ela fez (algumas vezes  indiretamente) e que foram negados ou nem notados, por causa do nosso preconceito e ignorância.

Portanto, se eu consegui te sensibilizar de alguma maneira com esse texto e, se agora você está se perguntando o que pode fazer então para ajudar alguém que está sofrendo, não se esqueça:

  • Escute: Nossa reação imediata é tentar ajudar oferecendo conselhos, partilhando nossas experiências ou tentando encontrar soluções. Contudo, o que devemos fazer nada mais é que escutar e não dizer nada. Quem está pensando em suicidar não quer conselhos ou soluções, ele simplesmente quer alguém com quem desabafar e com quem se sinta a vontade.
  • Não julgue:  Não tente dizer o que você acha certo ou errado, não analise, compare ou critique, pode ter certeza que a pessoa já se culpa o suficiente.
  •  Não mude de assunto, não demonstre que tem pena e não condescenda. É muito difícil falar sobre os próprios sentimentos. Escute.
  •  Agradeça à pessoa ter confiado à você suas angústias e sofrimentos e se coloque disponível para ouvi-la novamente e lhe pergunte se você poderia fazer algo mais para ajudá-la.

Se você acredita que outras pessoas podem se beneficiar deste texto por favor compartilhe, contribua  com essa corrente e diga não ao preconceito e à ignorância.

Você também pode orientar a pessoa a buscar ajudar psicológica e divulgar o site do CVV. O CVV oferece escuta gratuita (via telefone, skype, chat) 24 horas por dia para pessoas que estão pensando em se suicidar.

NOTA: Vários fatores podem influenciar a decisão de uma pessoa em suicidar-se, esse texto fala apenas de um desses fatores.

 

 

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