Ela não deixou de viver enquanto você não esteve por aqui.
Ela só vivia sem todo esse brilho no olhar. Sem essa coisa especial no sorriso. Sem esse mistério de tirar o fôlego no franzir da testa. Ela não sabia que você seria a duvida de todas as certezas que ela tinha até então. Ela não sabia que sentiria sua falta por que não imaginou que um dia você talvez não estivesse por ali quando acordasse para te olhar dormir com o travesseiro preferido dela e do lado preferido da cama também. Ela nem se importou em te privilegiar de tomar seus espaços e coisas preferidas da casa. Afinal, ela morava em você alguns dias.
Ela quis que pudessem criar seu próprio quebra cabeça. Dinâmico até demais, com as peças que costumavam inventar quando chegavam a alguma parte que parecia interminável. Não costumavam ficar intimidados com o que parecia ser impossível.
Nunca foi preciso se diminuírem para caber no melhor e no pior um do outro. Até os vãos serviram de abrigo. Nunca deixaram de fazer algo bom por acharem que seria pouco para a imensidão das expectativas do restante do mundo.
Eram impulsivos: se escondiam no silêncio e faziam o grito parecer admirável. Eram maré alta nos dias de sol intenso e maré baixa quando fazia frio. Instigavam e afastavam as próprias companhias, na mesma frequência.
Foram compulsivos: por sonhos, pela presença, por dias de ausência que as vezes se transformavam em saudade e as vezes viravam agonia mesmo.
Decidiram se pertencer no susto e logo em seguida perceberam que na verdade não precisavam mais justificar a permanência. Era como se o agora e para sempre estivesse disponível finalmente. Como sempre deveria ter sido. Nunca mais abrir os olhos tratou-se de somente acordar. Despertaram-se para sonhos secretos e segredos fragmentados.
Queriam que fossem o caso de amor mais honesto que já viveram nessa vida.Por isso foram e não voltaram mais para contar como era. Sem prazos. Sem pressa. Sem exposição demais. A felicidade custa caro as vezes. De repente não era mais necessário que elencassem dias inéditos para que fossem felizes.
Todos eram. Todos são.
