Dermatilomaniaco – Um desabafo

Mana eu normalmente venho com dicas e conselhos de como melhorar sua vida sexual ou psicológica, mas hoje vai ser só um desabafo mesmo…

Vocês já ouviram falar de dermatilomania? Skin picking? Escoriação compulsiva? Pois é, tudo isso é uma única coisa: mania incontrolável de cutucar a pele.

Mas não pense que é aquela cutucadinha básica para tirar uma espinha ou um cravinho… um dermatilomaniaco cutuca até o que não existe.

Um dermatilomaniaco cutuca cravo, espinha, pelo encravado, manchas, sardas, pelinhas das unhas e da boca, cutuca o nada, simplesmente escolhe um lugar na pele e cutuca até sair sangue.

Por quê? Não foi encontrada uma causa real no universo da psicologia, mas muito está relacionado à ansiedade, frustrações, válvula de escape.

O resultado dessa compulsão são cicatrizes, feridas inflamadas, muito uso de maquiagem e roupas que cubram as marcas, uma péssima autoestima e uma sensação de fracasso ainda maior.

Agora que já entendeu do que se trata, vem o desabafo.

Eu não me lembro de mim antes da dermatilomania. Muito antes de ter acne eu lembro que eu cutucava uns pelinhos encravados que tinha nos joelhos e nos cotovelos. Também lembro de cutucar os cravinhos dos outros, meu pai sofria muito como minha vítima preferida.

Depois veio a puberdade e aí sim a coisa ficou grande. Sempre tive uma ou outra espinha, nada demais, mas cravinhos aos milhões! Não só no rosto, mas também nas costas.

Como boa parte da população mestiça eu tenho hiperpigmentação, no meu caso uma pele muito sensível a manchas, eu não preciso cutucar pra ter uma mancha, se tiver uma espinha muito grande a pele mancha sozinha.

Imagine uma pele sensível no corpo de uma dermatilomaniaca o inferno que não é?

“Mas Alyne se você não gosta por que não para?” a resposta é muito simples, você pergunta para uma pessoa com Mal de Parkinson por que ela não para de tremer? Não né? E por quê? Porque você sabe que é uma doença, a pessoa não treme porque quer…

É exatamente isso, eu não tenho controle, quando eu vejo a mão já está lá!

Vocês não tem ideia do quão frustrante é ter que responder essa pergunta…

Vocês não imaginam como é horrível quando alguém nos diz “ah mas eu também tenho espinha e cutuco, mas me controlo”, a sensação de fracasso de “p*@# nem isso eu consigo fazer?” é tão grande, que não cabe em palavras…

Vi uma frase muito boa em outro blog que quero compartilhar aqui: Não se compara uma pessoa mentalmente saudável a uma doente, entendido?

Quem acompanha meus posts sabe que aos 27 anos eu desenvolvi ovário policístico e eu descobri porque tive a maior crise de acne da história da minha vida, literalmente tinha acne até na minha coxa…

Consequentemente meus dedinhos nervosos tiveram um playground para se divertir e eu tenho um corpo praticamente inteiro cheio de manchas para me lamentar até agora.

Eu já estava acostumada a ter uma ou outra mancha, mas agora eu realmente tenho vergonha…

Sim eu uso blusas sem muito decote, com mangas até no calor porque eu simplesmente não quero que vejam como a minha pele está.

No rosto? Base de alta cobertura todo dia e ácido para amenizar as cicatrizes…

Tirar a roupa na frente de alguém por qualquer motivo? Só de pensar, me da vontade de chorar…

Eu realmente não sei o que me motivou desde a infância a cutucar a pele, quando pequena eu era super feliz e amada.

Hoje em dia ok, tenho vários traumas, várias frustrações, 28 anos de planos que não deram certo e uma total falta de motivação de tentar qualquer outra coisa porque tudo sempre dá errado…

Talvez seja isso, talvez eu queira colocar toda a dor e a feiura das misérias que passei na vida para fora, para que não haja dúvida do quão machucada eu estou por dentro, talvez eu doa menos lidar com a dor física do que com a dor psicológica…

Talvez seja uma forma de compensar o fato de não poder, com as próprias mãos, mudar tudo que dá errado na minha vida e descontar em mim mesma por não ter esse poder…

Quem sabe?

A única coisa que eu sei é que eu cutuquei a pele 53 vezes enquanto escrevia esse texto…

 

E só para não perder o costume, se você também passa por isso você não está sozinha e você pode ver algumas dicas de como amenizar a situação aqui.

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