Ultimamente, a observação de aves tem ganhado destaque como uma atividade de lazer e bem estar para todas as idades. Possibilita o encontro com a natureza e incentiva a caminhada, o que traz benefícios para corpo e mente. Mas e se eu te disser que é possível fazer desta atividade uma fonte de reflexão sobre questões da vida que nada tem a ver com o tal do birdwatching ?
Não importa se você está em um grande centro urbano ou em um sitio em meio a natureza. Ponho minha mão no fogo pela certeza de que em algum momento, alguma ave cruzará seu campo de visão.
As aves se adaptam aos mais diversos ambientes, até ao caos das grandes cidades. Por vezes parecem alheios a tudo que ocorre à sua volta, em um ritmo bem diferente do que dita seus relógios biológicos. Se viram em busca de um lugar melhor para fazerem seus ninhos. Quando chove, tomam banho nos fios e topos de árvores. Quando amanhece, parecem comemorar mais um nascer do sol a plenos pulmões.
Cores, tamanhos e formas. Cantos melodiosos ou discretos zumbidos. A diversidade entre indivíduos é um ingrediente que atiça a curiosidade e a admiração sincera de cada atributo.
O padrão é a riqueza de peculiaridades entre espécies e espécimes.
Eu aprendi que …
Uma das coisas que aprendi observando aves foi que saber adaptar-se é preciso para a sobrevivência. Mas que adaptar-se não é, necessariamente, viver no seu melhor. Um pássaro adapta-se à baderna dos nossos agitados centros urbanos, mas com certeza viveria melhor em um lugar mais condizente com sua essência.
Aprendi a reconhecer a riqueza contida no que já temos como garantido, como o sol que nasce todos os dias, ou a chuva que em algum momento há de cair.
Passarinhar me ensinou que a beleza está no olhar. Se você tem amor pelo objeto do seu olhar, ele sempre será belo. Pode ser um joão-bobo ou um galo-da-serra, a beleza não vai estar em um lugar no qual seus olhos se prenderam desde sempre. A beleza é fluida e reside no que é peculiaridade do outro.
Muitas vezes nosso primeiro contato com aves vem dos que estão presos em gaiolas. Ao observar aves livres, aprendemos sobre a beleza que existe no simples fato de alguém ser conforme aquilo que ele é.
A beleza do voo é profunda. Enquanto o aprisionamento é melancólico, de uma melancolia nada poética.
Outra grande lição da observação de aves é sobre as maravilhas do silêncio. E da comunicação. Mas logo aprendi que uma comunicação bem feita é aquela considerando também a linguagem do outro.
E a mais valiosa lição foi sobre amor.
Sim, aprendi sobre amor observando aves.
Pois observando aves conheci um amor que pude adotar como meta no trato com meus semelhantes.
Nem sempre é fácil, os passarinhos parecem saber melhor que eu. Mas eu vi neles um amor cuidadoso que incentiva o voo daqueles que desejam voar.
O que seria o amor senão a liberdade de ser e de deixar o outro ser ?
