O que o c* tem a ver com as calças

 

 

Estamos em dois mil e dezessete e fazem quarenta e oito anos que o homem foi à lua, vinte e quatro anos desde a primeira mensagem de SMS e trinta e seis anos desde o lançamento do primeiro computador pessoal do mundo. Mas e aí, o que o cu tem a ver com as calças?

Daí que um mestre muito, muito querido uma vez nos mostrou em sala na aula de jornalismo um quadro do Magritte com os dizeres: “Isto não é um cachimbo”. Havia ali a imagem de um cachimbo, mas aquilo era um quadro. No nosso Brasil Varonil, o sexo consensual não é considerado estupro desde que a criança em questão não seja menor de quatorze anos. Uma criança de quatorze anos pode ter relações sexuais, por exemplo, com uma pessoa de setenta e cinco mas não pode ver pinturas que retratam o nu, vinculadas ou não ao erotismo.

Há também de ser lembrado o clamor inflamado por bancadas conservadoras e certos programas televisivos sensacionalistas acerca da redução da maioridade penal. Em um país feito aos moldes do homem cordial, nossas crianças pisariam em uma cadeia mas não pisariam em um museu. Como se isso não acontecesse desde sempre por aqui. No entanto, busca-se aparatos da lei para isso de modo que se torne incontestável.

Eu me casei aos dezessete anos. Caso eu tivesse esta idade em dois mil e dezessete, não poderia visitar a nova mostra do MASP sobre a história da sexualidade. Me desculpe se pareço prolixa na maioria das vezes, realmente sou, mas voltando à história do cachimbo, o professor nos explicou o que Magritte quis dizer com aquela frase: aquilo não é um cachimbo porque aquilo é uma pintura -assim como uma escultura retratando o nu não é uma pessoa nua, ou sexo, ou zoofilia.

Falando em cu, fazem quarenta e quatro anos desde o lançamento de um disco muito interessante do Tom Zé chamado “Todos os Olhos”. Na capa: a fotografia de um cu. A censura é burra desde aquela época, tanto que não percebeu a imagem ali captada: um cu e uma bolinha de gude. Nada de novo debaixo do sol.

 

 

 

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