Um Weinstein em cada empresa

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Nos últimos dias recebemos diversos depoimentos de atrizes a respeito de abusos cometidos pelo produtor super consagrado Harvey Weinstein. Acredito que nada disso surpreenda ninguém, no meio artístico esse tipo de relato é corriqueiro. Aliás, devo me corrigir, é corriqueiro na sociedade, é corriqueiro em todos os meios profissionais.

Weinstein – Para ler ouvindo “Fábrica” da Legião Urbana, de der. Se não, só lê

Quantas histórias já não ouvimos sobre assédio sexual já não ouvimos? Pois é. Por isso acho que o debate é muito maior do que o que se passa em Hollywood. Hollywood é uma parte do problema, não o todo.

Em toda organização existe hierarquia, e nela existem homens e mulheres. O que vemos é que com enorme frequência, os homens se valem de suas posições, quando altas na hierarquia, para exigir “favores sexuais” (leia-se estupro). Isso além das consequências devastadoras de qualquer tipo de abuso sexual, tem um agravante: a sobrevivência.

É diferente de uma abordagem na rua, onde um completo estranho tenta tocar seu corpo. Ali está o chefe, a pessoa a quem você deve satisfações profissionais, a pessoa que deveria te auxiliar em crescimento profissional, a pessoa que decide se você permanece ou não no emprego. E você precisa dizer não, porque você não quer esse contato, mas você precisa sobreviver, você precisa do emprego. E agora?

É nessa posição que uma infinidade de mulheres se encontram agora. Isso me faz pensar que dialogar sobre Weinstein é positivo, mas insuficiente. O ideal mesmo era estarmos discutindo sobre como isso acontece o tempo todo em todas as profissões. Precisamos que essas mulheres não sintam seus empregos ameaçados porque não querem transar com seus chefes.

Existem empresas que mantém um canal aberto para receber denúncias de todos os tipos de seus funcionários. Existem tantas outras que não. E existem empresas que a despeito do canal aberto, ignoram denúncias de assédio. E eu me pergunto o motivo. E eu não sei responder. Será o medo de se envolver num processo? Será que apoiar a vítima gera medo de uma ação trabalhista por parte do algoz? Se é isso, porque não existe medo de uma ação trabalhista por parte da vítima?

Vítimas calam. A mulher que diz sim por medo de perder o emprego, se cala pela mesma razão. E os “Weinstein” existentes empresas a fora sabem disso. Sabem que a vítima teme por seu emprego e não vai falar, e sabe que a empresa teme por sua imagem e também não vai falar.

Reitero que o diálogo deve acontecer em torno desse prisma, como faremos para que essas mulheres possam se manifestar no mesmo momento? Como faremos para que elas não esperem anos para enfim contarem suas histórias. E empresas, como farão para dar segurança para suas mulheres? Precisamos realmente responder essas questões antes de gastar mais energia nos lamentando.

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