Tragédias humanas | Quem faz nosso destino?

​Tragédias humanas

​Quantas tragédias humanas! Nos últimos dias foram especialmente traumáticos em vários lugares do mundo. Embora eu saiba que há tantas outras tragédias anônimas, que não ganham destaque na mídia, ceifando vidas por minuto em diversos cantos do mundo, causa-me espanto e tristeza cada vez que uma notícia sobre o trunfo do mal sobre o bem tem espaço.
​Dezenas de mortos em um show em Las Vegas, vitimados por um maluco enquanto se divertiam indefesos, é algo que me faz lembrar o quanto estamos à mercê da loucura e da maldade alheias. A vida é efêmera por natureza. Feitos de carne, sangue, ossos e emoções, somos muito mais frágeis do que gostamos de admitir. De alguma forma, aliás, precisamos nos proteger ou nos enganar quanto à certeza de nossa insignificância.
​Seja como for, todos sabemos que a morte é nosso derradeiro abraço, mas nunca esperamos que ela nos encontre através de nossos semelhantes. Roubar-nos o tempo que já nos é raro, interrompendo de forma abrupta, injusta e violenta nossa caminhada por esse mundo, é sem dúvida algo que nos deve causar revolta, espanto e tristeza. Mais do que isso, no entanto, deve nos provocar a reflexão.
​Nessa mesma semana, aqui bem mais perto da nossa realidade brasileira, somos surpreendidos pela notícia de que um homem na casa dos cinquenta anos, sabe-se lá por qual motivo, invadiu uma creche no interior do Estado de Minas Gerais e, com fogo, causou a morte de sete pessoas, quase todas crianças com idade média de 4 anos. Eu sou obrigada moral e humanamente a pensar que as pobres criancinhas sequer foram capazes de entender o que se passou, exceto que, em algum momento, a vida lhes abandonava precocemente. Impossível também não pensar na dor sem fim das famílias que, como árvores, perderam seus mais promissores brotos. Serão cicatrizes que não se fecharão jamais porque uma dor dessas não é capaz de encontrar saída entre os labirintos do coração.
​São tragédias humanas que não tem explicações únicas, que não são passíveis de compreensão, de entendimento. Que alguém queira abandonar esse mundo, mesmo que como forma de protesto ou pedido de socorro; que em um ato de extremo desespero, a pessoa opte por tirar a própria vida, sou capaz de entender e de lamentar. Contudo, pergunto-me, como por certo muitos nesse momento, desalentados, devem estar se fazendo, o que terá se apossado dos corações de quem resolve apagar o presente e o futuro de tantos inocentes, de pessoas que em nada se relacionam com suas próprias mazelas.
​Triste demais ver as famílias que, órfãs do futuro que foi interrompido, lamentam seus mortos, seus amores. E o pior é que nada nos garante que estamos livre de outros acontecimentos iguais ou piores. Ao contrário: por conta da loucura, da imbecilidade, da idiotice e da sede de poder alheios, estamos fadados a chorar ainda por muita coisa. Infelizmente, muito sangue, inocente ou nem tanto, ainda será derramado por conta de causas absurdas e de supostos deuses desumanos e cruéis.
​É uma infelicidade, de toda forma, que mesmo que resolvamos viver em paz, que não façamos mal a ninguém, que tentemos nos manter à distância daquilo que possa nos ferir, não temos o poder de nos colocar a salvo do mal que vem do outro, da ideia que nasce dentro de uma mente doente ou doentia. E tudo acontece num dia qualquer, tenha você terminado de ler o seu livro, tenha ou não um compromisso marcado para o dia seguinte. Num repente alguém decide que será o último dos seus dias ou daquele que você ama e pronto: tudo se arruina irremediavelmente, num vazio que pode ser colocado de lado, mas nunca preenchido.
​Fico realmente pensando no que é possível fazer, mas concluo que rezar seja o mais próximo do que seja eficaz ou ilusoriamente eficaz. Para quem acredita em destino, tudo fica mais simples, mas ainda assim eu me pergunto quem escreve esse roteiro e quais os critérios escolhidos, porque há momentos em que tudo parece não ter sentido algum ou ser de muito mal gosto…

Cinthya Nunes – cinthyanvs@gmail.com

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