Tão breve a morte, tão perto a vida

Tão breve a morte, tão perto a vida

Então é isso. Acabou. E não há luz no fim de uma estrada escura. Não existe uma porta na amplitude do nada. O silêncio profundo das almas não pode de ser ouvido. Ele sequer existiu. Ao invés disso milhares de vozes invadem o ambiente, dançam como fantasmas em uma casa vazia em que a memória carrega o peso da poeira do tempo.

Cada célula do meu corpo estremece, se choca e dissipa desalinhando constelações. A astrologia corpórea é um ponto inatingível no espaço, a finitude dos seres que adormecem no nada. A respiração caminha cada vez mais distante, deixando um rastro. As feridas se abrem e em um mergulho profundo, o grito fúnebre ecoa. Sôfrego, amargo, morto.

Aperto as pálpebras em um ato desesperado de tocar o real. Mas os olhos…Tento puxar nem que uma fração do oxigênio que outrora me nutria. Mas os pulmões… Os dedos não sentem nem mesmo o frio, esse, das situações atenuantes. Não restou muito além de fragmentos espalhados por um todo.

Mas estou aqui. Se é que se pode chamar isso de ser, ou estar. Ainda escuto as vozes que choram, sorriem, gritam e amam. Elas se manifestam como livros em uma alta prateleira. Ainda leio suas palavras, enquanto escorrem pelo ralo da pia. Não mais molham, quem dirá matam a sede. Já não me satisfaz a liquidez insípida do seu sentir. E debruçada na pia, me vejo no espelho quebrado.

Mesmo em pedaços, cada caco ainda é capaz de refletir. A consciência não mais desprendida, se concentra em um novo universo em projeção. Tão breve a morte, tão perto a vida. Como da embriaguez do sono, que turva a visão, amanhecer é ressaca. E o pós mortem a estranheza ao tocar o chão .Engatinho, quadrúpede até me reerguer apoiada em tudo aquilo que ficou.

Então é isso, começou. A tela em branco, a página destacada se anunciam num acordar de olhos. E na calmaria o choro que abastece as chuvas de verão. Foi morrendo (e vivendo) a cada desacostume da perda que eu entendi que a infinitude é um processo de recriação.

  • Duda Xavier

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