Por muito tempo muitas coisas estiveram perdidas: sonhos, pensamentos, pessoas, projetos…
Mas as vezes os ventos mudam de rumo e a gente por vontade própria ou pura pressão acaba seguindo a direção dele.
Mesmo após perder o emprego, perder uma parcela da liberdade, perder rotina, carro, amigos e a minha paz alguns dias, meu pai finalmente se reencontrou e eu tive a sorte de viver com ele esse momento incrível nesse ano, muita coisa está concentrada nesse momento dele, eu pude ver ele se encontrando com quem aparentemente ele nunca havia deixado de ser. O processo é gradativo, mas de qualquer modo talvez eu sinta o mesmo orgulho que ele já sentiu quando eu e meus irmãos passamos no vestibular ou quando fizemos o peito dele se inflar provando de algum modo que somos bons em determinadas coisas.
Talvez você tenha descoberto uma doença, talvez você tenha se tornado a cura de alguém ou até mesmo a sua própria. Não ouse dizer que o improvável não aconteceu algum dia desses. As vezes fatos inéditos passam despercebidos por conta dessa mania de grandeza que a gente acaba adquirindo com o mundo e acabamos ficando cegos ou vergonhosos demais para pequenas novidades, pequenas conquistas, pequenas mudanças necessárias.
Mais do que nunca me apoiei em pessoas que vivem e morrem todos os dias e descobri que elas fazem a diferença no final das contas, elas me fizeram ser diferente sem nenhum esforço, só estando próximas resistindo a todo o caos (mas gozando dele também).
Decidi aprender por conta própria coisas que fugiam das minhas possibilidades mentais pré-definidas. Passei a ver a vida com olhos de positividade caminhando sozinha ou acompanhada. Mudei de CEP pelo menos três vezes, mudei de perfume, mudei meu shampoo preferido por que ele deixava meu cabelo oleoso demais, mudei o jeito de usar a franja, cortei o cabelo, mudei a cor de roupa mais usada, mudei de emprego, mudei os desafios, os medos, as músicas mais escutadas, consegui passar mais dias com o meu afilhado, defini novas cores de esmaltes preferidos, bem assim: do mais importante ao aparentemente mais inútil hábito. Novos lugares, várias vezes tudo novo, de novo.
Não adianta a vida te esperar de braços abertos se você corre na direção contraria, mas não se preocupe em definir a velocidade dos passos: escolha chegar ao abraço dela. Amenize o impacto das pedras no caminho olhando para elas com o pensamento forte de que se trata da ultima vez, ainda que elas se repitam não deixe que o desanimo que elas possivelmente te causarão seja contínuo.
Nem sempre a matemática da vida é exata, a gente calcula onde quer estar e como chegar, mas não da para calcular a bondade ou maldade dos ventos a nosso favor, ou contra ele.
A vida acontece dia por dia, vamos tentar não perder tanto o foco com as neuroses e possibilidades do amanha, ok?
Quantas pessoas você deixou de abraçar mais por usar o tempo como empecilho?
Quanto tempo você perdeu por colocar pessoas como empecilho?
Quanto tempo você passou medindo as atitudes de alguém e deixando de tomar as suas próprias?
Quantas vezes você deixou de fazer questão da sua própria paz para sustentar a dos outros?
Quantas vezes você fez algo novo pela primeira ou pela milésima vez?
Talvez tenha chegado a hora de novas vidas cruzarem seu caminho, talvez seja o momento de trocar a coleção de momentos, talvez seja hora de insistir ou desistir definitivamente de determinadas coisas. Perca mais tempo ganhando sorrisos, motivos, forças, amor…. Se dedique mais a estar imerso nos momentos que ficarão na sua memória, que pode ser mais seletiva a partir de agora.
Não tente planejar todos os próximos 365 dias compulsivamente. Arrisque mais. Todo dia é dia de comemorar.
