Setembro Amarelo | Preciso falar dele

Setembro Amarelo | Preciso falar dele

Era dia 04 de maio, um domingo ensolarado e que aguardava grandes surpresas. Levantei cedo, coisa que não era comum, tomei um banho, daqueles que você fica mais um tempinho pensando, no meu caso fiquei imaginando o que aconteceria, escolhi uma roupa mais nova, escovei meus cabelos e defini meus cachos dourados. Fui a cozinha, esquentei meu café com leite, olhei no relógio a cada 1 minuto esperando dar as 08:00 e de repetente a campainha toca. Não consegui ver seu rosto, tinham flores na frente, umontão delas em um buque, tão lindas que quase não me importei de não te ver sorrindo como bobo pra mim, mas melhor do que isso foi ganhar o seu abraço, era um encaixe tão perfeito que tal simetria não precisava nem ser calculada.

– Entra, preciso te dar o seu presente – falo a ele.

Com o coração a mil, te dou uma caixa de madeira com nossas fotos coladas em cima dela, você abre e contempla o quadro que te fiz a mão, as caixinhas com doces e presentinhos para nós usarmos juntos. O seu sorriso emocionado já responde tudo, sei que você amou o presente, mas o dia só estava começando… Tomamos um rumo que eu não sabia pra onde era, andei vendada, uns 15 minutos depois estávamos na porta do antigo prédio que nos conhecemos, você me entrega uma carta e ao ler ela eu choro, mas de felicidades, e ainda segue o dia todo, cada local que vamos eu recebo uma carta explicando o porque aquele lugar foi especial para nós. Chegou o fim do dia, você se despede com um beijo e vai pra casa. Comemoramos um ano de relacionamento, um ano de felicidade e de amor.

Eu estava em uma fase cansativa, cursando o 3° ano do ensino médio de manhã, fazendo curso de logística a noite e cursinho pré vestibular nos fins de semana, não era fácil, não, eu não queria deixar você de sábado e domingo sozinho, eu só estava pensando no meu futuro, no nosso futuro.

Os dias passaram e fui notando que seu olhar mudou, algo dentro de você mudou desde o dia em que você viu a sua mãe depois de anos sem poder chegar perto dela, eu pensei que isso seria bom, que você se sentiria bem de ver ela, mas todos os dias quando eu ia te encontrar no seu trabalho, parecia que alguém tinha levado aquele menino branquinho do olhos verdes embora, e isso dificultou as coisas.

– Mozão, você precisa de ajuda, não pode ficar se machucando assim, eu sei que é difícil mas sua mãe está bem, pensa no seu pai que faz de tudo por você.

Eu não entendia o que estava acontecendo, eu só tinha 16 anos, nunca havia estado do lado de alguém que precisasse de ajuda mas não queria, e cada dia que passava você piorava, tinha raiva, angustia e ciúmes, mas não era qualquer ciúmes, você brigava comigo por coisas tão bestas, começou a me seguir no curso como se fosse achar alguma coisa, e mesmo não achando nada você brigava, do caminho do curso até em casa era briga, eu não estava aguentando, não entendia onde o amor que você tanto sentia por mim foi parar, será que eu estava mesmo fazendo alguma coisa ??? BASTA

-Rodrigo não dá mais, eu não estou bem desse jeito, preciso de um tempo.

Foi difícil, mas era necessário tomar aquela decisão, eu precisava de um tempo para pensar no que eu realmente queria e se seria a coisa certa continuar em um relacionamento que não me trazia mais felicidades. Pedi uma semana e todos os dias você tentava de algum jeito me surpreender e me fazer voltar atrás, mas no fundo eu sabia que não dava mais, mesmo te amando, você não mudaria.

Fim do domingo a noite,um dia antes do meu aniversário,  brigamos mais uma vez, mas era a última vez, eu não choraria mais pelo mesmo motivo, cancelei nossa noite romântica no restaurante japonês, tomei coragem e terminei de vez, com o coração na mão.

Dia 26/05/2014, meu aniversário, 17 anos. Acordei com dores e resolvi não ir pra escola, era 12:30 quando liguei meu noot e recebi uma mensagem sua, eu não entendi ela, ou não quis entender, mas você me dava adeus como se nunca mais eu fosse te ver, entrei em desespero, não era possível o que eu acabava de ler.

– Siga a sua vida sorrindo, não chore por isto, eu te amo, feliz aniversário.

Eu te procurei, como te procurei, era ligação atrás de ligação e meu coração apertado, você não atendia o seu celular, até que de repetente, alguém atendeu, mas não era sua voz, não era você, passei horas atrás de ti e tudo que consegui foi um “liga daqui a pouco” de alguém.

Liguei, não vou negar, foi a pior ligação da minha existência e me recordo como se fosse hoje a dor de ouvir que você tinha se matado, que você não tinha mais vida, que seu pai havia te encontrado pendurado no quintal. Eu gritei e como gritei, que dor, eu havia perdido meu menino, meu amor. Mas o que você tinha? Por que não pediu ajuda?

Três anos depois sou capaz de entender que a depressão é fria, muitas vezes nos escondemos dela para que ninguém perceba, o suicídio é apenas uma saída para quem quer fugir dos problemas e acabar com eles, mas existem SIM outras formas, e uma delas é procurar alguém para desabafar.

Estou me colocando a disposição a todos que precisem ser ouvidos.

Depressão não é frescura!

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