Precisa casar mesmo?

Afinal, precisa casar mesmo? E tem que casar no civil? Precisa fazer cerimônia na igreja? E festa? Nada é tão pessoal e, ao mesmo tempo, tão cheio de palpites alheios, do que o casamento.

Sou avessa às convenções sociais. Detesto a ideia de ter que fazer alguma coisa só porque todo mundo faz ou porque é o que a sociedade espera que eu faça. E nessa categoria estão incluídas dezenas de situações, e pretendo escrever sobre diversas delas nos próximos artigos, já que elas me incomodam muito. A primeira destas situações da lista é o tal do casório. Tão sonhado por tantxs, planejado, esperado. Mas e se você não quer formalizar seu relacionamento? Aí amigx, espere para uma enxurrada de empecilhos.

Morar junto

Você está num relacionamento super legal, fazendo planos de viver junto com essa pessoa. Aí vocês decidem fazer um test drive ou simplesmente começar a vida de casal. E acham que uma boa ideia seria, então, morar juntos. Fazem as contas, procuram imóveis dentro do orçamento, compram móveis novos, levam móveis usados, juntam as escovas de dentes e pronto! Simples né?

“Mas não vai casar?” “Vai só juntar?” “Vai amasiar?”

Ué, porque não? Porque raios você é obrigadx a assinar um papel para provar que está num relacionamento sério? Não vou me atrever a falar dos aspectos legais da coisa, mas sei que tem outro papel mais simples de fazer e assinar que se chama declaração de união estável. Sei disso porque eu tenho uma, e só fiz depois de alguns anos morando junto e porque um balcão, com um funcionário público atrás, me exigiu um. Aliás, parece que esse simples papel já tem tanta importância quanto o registro do casamento civil. Mas nunca me fez falta uma certidão de casamento, aliás já tive vantagens em não ser legalmente casada.

O religioso, não tão religioso assim…

Ah, mas se você é religiosx precisa pedir a benção de Deus para o seu matrimônio, certo? Bom, é aqui que eu acho que religião se discute sim. Porque se a pessoa é religiosa e sente a necessidade de pedir a benção do seu Deus para a sua união, até aí tudo lindo. Mas o povo quer a igreja decorada, cheia de flor morta, quer coral, vestido bufante, pompa e circunstância. Mas, não serve só a benção mesmo? Tipo assim: vou na igreja, peço uma benção ao padre e vamos para casa, felizes para sempre. Não podia ser assim? Ou seu Deus troca benção por docinhos finos e um brinde de espumante?

 

Noiva segurando um cofre de porquinho

Ah, mas tem que ter festa! Tem que celebrar o momento! Mas e se eu não quero gastar o valor de um apartamento numa janta – que, no final das contas, vai ter gente reclamando da comida – só pra dizer pra sociedade que eu tô casando? “Ah, mas você vai ganhar muitos presentes, compensa”. Poxa, vai fazer festa só pra extorquir uma graninha preta dos padrinhos? Sacanagem hein. E a indústria casamenteira tá tão mercenária que com a grana de uma boa festa de casamento dá pra mobiliar vários lares.

Fora que essa coisa de casar tem um amontoado de rituais – ou sem sentido, ou com fins lucrativos ou meramente estéticos: jogar buquê, cortar gravata, bonecos no bolo, valsa, escultura de gelo, vestidos, fraques… Tudo tão enfeitado e gourmetizado, que a benção de Deus fica reduzida a uns 40-60 minutos, que depois todo mundo reclama que demorou muito. E aí vem a noivarada dizer que vai casar na igreja pra ter o casamento abençoado. Ah ta… Sério mesmo? Mas se as madrinhas não estiverem todas da mesma cor, aí não serve.

Conheço um bocado de casal “juntado” muito mais feliz que os que cumpriram o ritual. Vejo lares de casais não-formalizados muito mais abençoados que os típicos noivinhos de bolo. E aí? Quem tá certo? Quem tá errado?

Eu sei quem tá certo: quem ama! Ama independente da festa, do papel, do vestido. Que quer tanto compartilhar a vida com alguém, que tanto faz se a janta vai ser no buffet, na casa da tia, ou no apê só os dois. Mas também tá certo quem fez toda a firula, mas que admitiu que fez porque quis, porque tinha vontade, porque era o sonho… e não botou a culpa em Deus, ou nos bons costumes, ou na família conservadora ou na sociedade. 

5 thoughts on “Precisa casar mesmo?

    • Luisa Lima says:

      Olá Suzane! Obrigada por ler e comentar meu artigo. Você tem razão, como seria tudo tão mais fácil se as pessoas fossem mais autênticas. Como o mundo seria um lugar melhor pra se viver, sem toda essa pressão hipócrita da sociedade. Grande abraço!

  1. Ciro says:

    O sociólogo austríaco Peter Beger, falecido em meados do ano passado, usa o conceito “estrutura de plausibilidade’ para designar um espaço nômico, ou seja, um espaço em que um grupo compartilha de ideias parecidas e se sentem em um ambiente confortável. Esse se sentir confortável, quase sempre tem a ver com fazer o que todos querem que façamos. Em um país culturalmente formado pela moral cristã nada mais aprovado socialmente do que o casamento. Quando rompemos com tal convenção social, o que Durkheim chamava de “anomie”, corremos o risco da exclusão e da falta aprovação social. Claro que uma festa de casamento pode ser também um encontro que satisfaça os noivos com a possibilidade de reencontrar os amigos sem toda essa carga de imposição social. O que vale saudar aqui é a possibilidade de romper com essa “estrutura de plausibilidade” e ficar com o coração tranquilo. Belo texto Luisa!!!

    • Luisa Lima says:

      Obrigada pelo lindo e sábio comentário Ciro. Meu coração ficou ainda mais tranquilo… Abração!

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