Pedófilo vs Abusador

Pedófilo

O assunto é polêmico e delicado. É necessário muita boa vontade e bom senso para compreender um pedófilo. Se você não se sentir com nenhum dos dois no momento, recomento deixar a leitura para depois.

Pedófilo –  Pra ler ouvindo “Pedofilia”,de Titãs, se der. Se não, só lê

Primeiro preciso definir duas coisas.

Pedofilia: Transtorno que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças.

Abusador sexual:  realizador de atividade sexual não desejada, com o uso de força, ameaças ou exclusão de vantagens da vítima, que se torna incapaz de negar consentimento. O abusador possui posição de poder ou de autoridade e se aproveita da confiança e do respeito de uma pessoa para envolvê-la em atividades sexuais não consentidas.

Isso esclarece algumas coisas. O abusador sexual (independente de quem seja sua vítima) merece e deve ser punido por seus atos. E o pedófilo? Depende. Sim, depende. Considerando que o indivíduo possui um transtorno que o leva a sentir atração sexual por crianças, até esse ponto não existe crime. Se não culpamos os demais desejos sexuais, também não podemos culpar esse, por mais absurdo que pareça. Vou ser mais clara, enquanto o indivíduo mantém essa questão somente no desejo, não há crime.

Existem diversas leis mundo a fora, mas em terra Brasilis temos:

Código Penal:

  • 217-A do CP – estupro de vulnerável;
  • 218 do CP – mediação de menor de 14 anos para satisfazer a lascívia de outrem;
  • 218-A do CP – satisfação da lascívia mediante a presença de menor de 14 anos;
  • 218-B do CP– favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou vulnerável.

Estatuto da Criança e do Adolescente:

  • 240 do ECA – utilização de criança ou adolescente em cena pornográfica ou de sexo explícito;
  • 241 do ECA – comércio de material pedófilo;
  • 241-A do ECA – difusão de pedofilia;
  • 241-B do ECA – posse de material pornográfico;
  • 241-C do ECA – simulacro de pedofilia;
  • 241-D do ECA – aliciamento de menores.

Ou seja, ser pedófilo não é crime. O crime é praticar a pedofilia.

Agora sejamos empáticas. Imagina que a realização de seus desejos sexuais fosse crime, e absurdo, inclusive para você. E que você passe todos os dias da sua vida lutando contra isso, se segurando, se punindo e fugindo. Tenso demais, não? Eu imagino que é assim que um pedófilo “não praticante” se sinta.

E isso é agravador por um fator básico: a ignorância. Veja, a quem o pedófilo pode recorrer? A ninguém. No momento em que ele revelar o que passa consigo, as pessoas automaticamente vão se afastar. Ele será condenado socialmente e isolado, ainda que não tenha cometido crime algum. Coloco atenção inclusive ao fato de que sozinho fica mais difícil se manter no controle. Se esse indivíduo receber apoio, assistência, se sentir compreendido e receber o tratamento psicológico adequado as chances de nunca praticar a pedofilia é alta. Existem grupos de apoio para eles, formado por eles mesmos, já que são os únicos que se apoiam de coração. Esses grupos são praticamente sociedades secretas, e a razão disso é, como dito anteriormente, a nossa ignorância.

Tentar a inclusão

Não diga que você é diferente, porque você não é. Eu também não sou. Há algum tempo passei a pensar sobre isso, mas ainda tenho minhas limitações. Quer a prova? O que você faria se abrissem reuniões de um grupo desses do outro lado da sua rua? Pense a respeito.

E quando é noticiado algum caso de pedofilia? Nós caímos matando, quantas vezes já ouvimos “tem que matar essa raça”, “castração química”, “pedófilo merece o pior castigo”. E aí, fico imaginando o “não praticamente” vendo tudo isso e vendo como um monstro. A cada notícia que ele vê sobre isso, ele se condena junto. Se olha no espelho e vê um monstro. A questão é ele NÃO é um monstro, o mostro é o ABUSADOR.

O abuso sexual é absurdo em qualquer idade, e é isso que devemos ter em mente e combater todos os dias. O pedófilo “não praticante” merece todo o apoio e tratamento que pudermos dar, mas sei o quanto é difícil estender a mão a esse desconhecido. Acho então que um bom começo seria se conseguíssemos apenas não condenar ninguém por crimes que não aconteceram. Tirar o peso do termo “pedófilo” e colocar todo esse peso no termo “abusador”.

 

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