MANTENHA A SUA VIRGINDADE EM DIA

virgindade em dia

Pareceu estranho esse título? MANTENHA A SUA VIRGINDADE EM DIA

Para você entender melhor o que estou falando, vou fazer uma perguntinha: qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Daquele tipo que dá frio na barriga, que você pensa “e agora?”, que você fala “f$&*%u”.

Nós estamos numa realidade e numa virtualidade muito da chatinha. Tudo é monitorado, recomendado, filmado e documentado. Mesmo quando a gente vai a uma montanha russa pela primeira vez, a gente já checou o vídeo do percurso no Youtube. E a opinião das pessoas. Os reviews. Se a gente alugou um apê na praia pra ir com o pessoal, a gente já recebeu excelentes fotos e já checou as cercanias no Google Earth. Se a gente resolve colocar um ser no mundo, pode passar horas e horas “aprendendo” como desempenhar melhor o papel em um zilhão de blogs de todos os estilos.

Essa chatice acontece por duas razões: porque isso tudo está à disposição, e porque a gente pensa Why not? (Por que não?) E a gente pensa assim por quê? Porque somos perebas em sermos virgens. Somos ruins em sermos seres sem experiência mediante uma experiência (para nós) inédita. Mandamos muito mal como novatos. Não sabemos ser novatos. Não conseguimos improvisar. Não somos criativos e libertos para improvisar. Queremos o tutorial antes, pra não sermos pegos de surpresa. Muita gente fala deliberadamente “não gosto de surpresa”. Surpresa muitas vezes é sinônimo de “susto”, dependendo da situação. E isso tudo tem sido muito aterrorizante para a maioria dos seres “amedrontados” nos quais nos tornamos.

Você já ouviu falar em Richard Branson? Ele é um empresário britânico que nasceu disléxico e hoje está com quase 70 anos. Fundou o grupo Virgin que lida com música, aviação, vestuário, viagens aeroespaciais… dentre outras coisas. Bom, considerando o nome da super holding que ele fundou e a quantidade de tipos de negócio a que se destina, já deu pra perceber onde eu quero chegar…

Hoje, dia em que estou escrevendo esse texto, Richard Branson lançou sua mais nova autobiografia: “Finding my virginity” (Encontrando minha virgindade). Vale lembrar que a primeira autobiografia que ele lançou, há uns 20 anos, chamava-se “Losing my virginity” (Perdendo minha virgindade).

Ele diz que você pode encontrar coisas para fazer pela primeira vez e modos de fazer as coisas pela primeira vez ao longo de toda a sua vida. Não é necessário pular de pára-quedas, viajar para o Tibet ou trabalhar num campo de refugiados.

O maior exercício está em fazer as coisas de uma nova forma. Fazer coisas diferentes no mesmo trabalho, na mesma casa, no mesmo relacionamento. Isso é uma quebra desafiadora de paradigma. Pois quando a gente muda de ambiente e de companhia é muito fácil perceber maneiras novas de fazer as coisas. E coisas novas para serem feitas também. Mas adquirir a capacidade de, a partir de você, enxergar e fazer as coisas de outra forma, só se renovando constantemente enquanto um “espírito virgem”.

Como psicanalista, confesso que não vejo isso tão raramente. A pessoa que chega na minha frente, que se propõe um processo de análise, de certa forma ela já está percebendo que “a casa caiu”. Que ou ela começa a percorrer um caminho mais “autoral”, mais criativo e mais surpreendente a partir de ontem, ou ela não vai aguentar. É aquele momento em que a pessoa pensa: “não pode ser só isso. Não pode ser essa chatice, zero surpresa, zero susto, zero criatividade”. E se a pessoa passou a vida, até aquele momento, seguindo um script de expectativas de outros, daí que mudar a coisa toda é bem mais urgente.

E, na boa?

Ou a gente começa cuidar da nossa “virgindade de espírito”, começa a ser fera em encarar surpresa, em viver mais sem script, com mais criatividade, com menos medo de ser pego desprevenido, e aprende a reinventar tudo mesmo estando com a mesma companhia, no mesmo cenário, no mesmo corpo, com a mesma cara, ou a parada fica muito caída.

Então ó, só para não dizer que eu não dei o negócio mastigado:

  1. Fique ligada no que está se repetindo demais na sua vida;
  2. Evite encher seu cotidiano com os mecanismos contemporâneos de “prevenção” de surpresas (permita-se surpreender-se com um restaurante ou com uma posição diferente na hora de transar);
  3. Questione o nome que você dá a algumas coisas, rebatize sentimentos, amigos, situações;
  4. Resignifique as suas soluções para as coisas;
  5. Banque sentir um certo desconforto em relação ao desconhecimento de algo (Vai, boneca, você consegue…);
  6. Não aceite que boa parte das coisas da vida “seja só isso mesmo”.

Porque a sua vida, parceira, não é ensaio.

E nem tem review na internet.

 

 

Fonte da imagem: lovethispic.com

 

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