Já pode parar com a palhaçada? Sorry, sua vida não é uma corporação.

sua vida não é uma corporação

Já pode parar com a palhaçada? Sorry, sua vida não é uma corporação.

Não é de hoje que a gente mistura os canais, sendo isso bom, ruim, necessário, inevitável, não importa.

O desenvolvimento das indústrias “emprestou” estética para a arquitetura dando origem ao sensacional art deco, a Segunda Guerra emprestou praticidade e independência para a moda feminina nos anos 1940, a tecnologia está revolucionando os relacionamentos humanos sob todos os aspectos.

Essas intersecções são incontáveis na história da humanidade e geraram influências importantes e inesquecíveis. Mas eis que estamos perdendo a mão no quanto a lógica corporativa vem invadindo nossa vida pessoal, familiar, sexual.

Desde de ter um “projeto de vida”, fazer um “life coaching“, dar um “feedback” para o parceiro, pensar nossos interesses de busca de conhecimento sob a ótica do “qual será a aplicabilidade disso?”, tentar regular a maior quantidade de variáveis das nossas vidas através de planilhas, aplicativos, até instaurar a dinâmica da competitividade dentro do relacionamento, gerir a vida familiar com “parceiros” e “fornecedores”, ou mesmo encarar grupos de amigos como um networking poderoso, em relação ao qual não se pode “ficar em falta” e que precisa ser “alimentado”, são sintomas de que há muito do corporativo invadindo nossas vidas familiares e domésticas nos grandes centros.

É natural que todas as esferas estejam ficando altamente regulamentadas e parametrizadas. Embora lentamente, a internet, por exemplo, já conta com alguma regulamentação, com jurisprudência em relação a uma quantidade grande de crimes. É cada vez maior a quantidade de metodologias, certificados, leis, regras, protocolos, convenções, dentro dos mais variados campos de conhecimento. As empresas são certificadas. As pessoas são treinadas para funcionar em parâmetros desejáveis para os acionistas, os mercados e os consumidores.

E por que, então, a nossa vida pessoal, familiar e doméstica não pode entrar nessa fantástica lógica altamente eficiente e produtiva da alta performance???

Porque esse é o ÚNICO espaço de “resistência” que nos sobra nos grandes centros, onde há até o lado certo de se subir a porra da escada rolante no metrô. Não podemos colocar esse espaço a serviço da eficiência em primeiro lugar, da fórmula pronta, do aplicativo, do fornecedor, das “dicas”.

No que afeta nossa vida pessoal, podemos compartilhar experiências, dividir angústias, acolher a fala do outro com uma escuta respeitosa e não julgadora e, se tivermos sorte, podemos encontrar essa escuta em um outro. Mas viver de “dicas”, de tutoriais, de métricas, de receitas emocionais aprendidas em artigos de internet, empurradas para cima do coletivo como uma fórmula única, um tamanho que sirva a todos, isso sim é uma receita perfeita para a frustração e o descontentamento.

No grupo de mães que tenho na minha clínica em São Paulo, o “Mães no Divã”, combato incansavelmente a troca de “fórmulas milagrosas”, de “dicas”. Sempre incentivo a escuta e o acolhimento da experiências de cada um como uma experiência única, uma narrativa pessoal e intransferível, que ao ser contada e escutada nos transforma em melhores autores das constantes transformações a todo momento de nossas vidas. Vamos criar cada momento nosso do início, a partir de um rascunho único.

Não tenha medo, não tenha preguiça, não abra mão do seu espaço pessoal.

Não desista do seu espaço de resistência existencial!

 

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