De peito aberto | Câncer de mama

De peito aberto | Câncer de mama

Desculpem o trocadilho mas foi assim mesmo, de peito aberto, que resolvi passar por tudo. Quando eu descobri o que tinha resolvi que ia me jogar de cabeça nessa experiência pois sabia que não morreria e sei também que nunca mais vou passar por isso. Já que havia entrado nesse caminho sem querer pelo menos ia absorver todas as experiências.

A cirurgia foi um sucesso. Aliás, sucesso era o anestesista, minha última visão antes de cair no sono! Foi retirado somente um quadrante do meu seio direito (tumor + margem de segurança) e no mesmo dia já fiz a cirurgia de reparação que ficou perfeita. Mas eu demorei quinze dias pra ver o resultado porque até então quem cuidava do curativo era o médico. Confesso que quando essa função coube a mim eu cai. Não chorei, aliás pouquíssimas vezes eu chorei, mas me senti mal: tontura, enjoo, tive que me sentar pra não cair. Agora tinha uma cicatriz com a qual teria que conviver e naquele momento não sabia como.

Após a cirurgia começou o processo com oncologista. Me lembro de pensar enquanto estava na sala de espera que nunca na minha vida imaginei estar naquele lugar, até porque pensar em estar naquele lugar despertava meus maiores medos.

Surpresas da vida, fazer o que?!

Durante todo meu processo encontrei profissionais que mais pareciam anjos na minha vida (secretarias, médicos, enfermeiros) e com o oncologista não foi diferente. Lembro de entrar na sala acanhada, com medo do novo, parecendo um bichinho acuado e sair de la sabendo tudo sobre o assunto, segura, decidida e pronta. Hoje ele é uma das pessoas que mais confio no mundo. Essa relação humana entre eu, ele e toda equipe acredito que tenha sido essencial  para tudo acabar bem.

Decidimos juntos que eu passaria por todo o tratamento.Mesmo existindo uma possibilidade de eu não precisar passar pela quimioterapia não quis pagar pra ver afinal eu já estava preparada para ela, tanto que eu mesma já tinha cortado meu cabelão bem curtinho.

Já estava fazendo meu rito de passagem particular.

Protocolo definido: quimioterapia, 4 ciclos da “vermelha” (não quis saber o nome do remédio, só sabia que era vermelha, que era forte e ela iria levar meus cabelos e pelos embora), 4 ciclos das “brancas” (as chatinhas que me davam dor no corpo e sono), 12 doses de Herceptin (terapia alvo para tumores com uma proteína chamada Her2), 28 sessões de radioterapia e 05 anos de hormonioterapia, que termino em 2019.

Dentro do possível posso dizer que foi bem tranquilo pra MIM. Costumo dizer que passei por tudo quase que como passo por uma gripe. Não passei mal com as quimios como pensei que iria acontecer (tirando a primeira que comi tudo que tinha na geladeira com medo de perder a fome e uma outra que, ao término, resolvi que queria almoçar no McDonalds), aprendi a administrar os enjoos e principalmente a respeitar meu limite. Não precisei parar de fazer o que estava acostumada, só evitar multidão e comer comida crua na rua.

Minha pizza e minha cerveja (um copo) estavam liberadas!

Se eu pudesse falar uma única coisa baseada na MINHA experiência diria que o bicho não tem 7 cabeças como imaginava, tem umas 3 ou 4 no máximo. E, de coração, se você que esta lendo precisar passar por isso tudo desejo que seja assim também.

Nos próximos posts vou contar as experiências paralelas ao tratamento: cultivar a careca, terapias que me ajudaram a encarar tudo de frente, operação espiritual, as perdas e os ganhos … de kilos!

Importante: muita gente me procura querendo saber como é o tratamento. Sempre explico que esse protocolo foi o MEU. Achava clichê mas não é, no caso do câncer de mama cada caso é um caso, cada organismo é um e o tratamento é personalizado.

 

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