Acho que eu tinha por volta de 16 anos, e apesar do que dizem, juro que eu não estava bêbada.
Pra ler ouvindo “Eu bebo sim”,de Velhas Virgens, se der. Se não, só lê
Era um domingo e haveria um show do Ira! e do CPM22 na praça Charles Miller em Sampa. Maravilha! A galera reunida, uns seis amigos. Entre nós havia a uniformidade de idade, e de dureza também. Juntamos os trocados para comprar algo para beber. Hoje sei que eu não tinha maturidade para beber assim, mas na época era quase obrigatório a bebida no rolê.
Ao dizer que juntamos trocados, quis dizer trocados mesmo. Acho que não deu nem R$30, não me lembro. O que lembro é que compramos seus corotes e uma, sim, UMA garrafinha de Coca-Cola para misturar. Eu não faço ideia de quem fez essa distribuição de recursos, mas foi aprovado.
Aqui quero deixar claro que minha paixão sempre foi cerveja, e até hoje é. “Posso até gostar de outras bebidas, mas cerveja que eu amo”. E eu nunca gostei de pinga, ainda hoje só o cheiro já me incomoda. Mas aquele dia só tinha a “marvada”, e eu aprendi o significado do meme (que ainda nem existia): “Nunca diga dessa água não beberei, porque beberei”. E eu bebi.
O primeiro show do foi Ira! e eu m lembro do começo do show. Somente do começo. Meio e fim páginas em branco na minha memória. O show do CPM22 talvez tenha acontecido, talvez não. É possível que o Patati e Patata tenham substituído o CPM22 aquele dia, porque eu simplesmente não lembro. O que não significa que estava bêbada.
Na próxima página preenchida que tenho na memória já era segunda-feira e eu estava acordando na minha casa. Na minha boca um gosto de sola de sapato. O meu corpo não sabendo lidar com a gravidade. E na minha testa uma marca. Nesse momento eu pensei que talvez eu fosse o Harry Potter, mas imediatamente descartei a ideia por motivos de eu não estar em Hogwarts, nem na casa dos Dursley, nem no Beco Diagonal, nem na Toca. Era só o meu quarto.
Liguei para meu melhor amigo, e perguntei o que havia acontecido. Os relatos a seguir são de fonte confiável, e ratificada por outras fontes confiáveis. Mas eu JURO que eu não fiz nada disso:
- Sumir durante quase uma hora e voltar com a cara mais deslavada do mundo chamando pelo “Samuel”. Em minha defesa devo dizer que não conheço nenhum Samuel.
- Gritar a plenos pulmões que o Ira! não é mais o mesmo, que deveria se chamar “raivinha”. Em minha defesa devo dizer que eu nunca gostei muito do Ira! mesmo.
- Decidir aleatoriamente que precisava deitar para dormir no meio do show do CPM22. E realmente deitar. Isso não tem defesa, mas explicou a marca na minha testa.
- Ter certeza que a Pitty apareceria de surpresa para tocar, e por esta razão se recusar a ir embora. Isso também não tem defesa, mas seria o máximo se acontecesse. E eu lembrasse.
- Chorar copiosamente, porque seu amigo já irritado porque você não queria ir embora, disse que a Pitty morreu. Em minha defesa devo dizer que foi uma mancada gigantesca da parte dele.
- Enfiar meio corpo pela janela de um carro parado onde um casal estava se beijando e começa a conversar com eles. Fazer novas amizades é sempre bom.
- Vomitar no ônibus de volta para cada. Nos dois ônibus para voltar para casa. Sem defesa.
- Descer do ônibus em um ponto aleatório, correr, entrar novamente pela porta da frente e pagar a passagem novamente. Bom, eu economizada o bilhete escolar quase todos os dias, então podia me dar esse “luxo”.
- Dizer para os amigos ficarem na lanchonete do bairro esperando para que eu fosse em casa pegar mais dinheiro para todo mundo poder comer. E não voltar. Sem defesa.
Bom, eles dizem isso, mas eu juro que não estava bêbada. 😉