Banana Split

Banana Split

 

Quando eu era criança minha mãe me levava pra tomar sorvete sempre que possível. Ela trabalhava muito e os momentos com ela sempre foram muito valiosos para mim. Morávamos numa cidade muito pequena onde só existia uma única sorveteria. Passar as tardes ali com a minha mãe era, de longe, uma das coisas que eu mais gostava de fazer na vida ficando atrás somente dos meus gibis da Mônica e de tomar banho.

Nosso sorvete preferido era banana split: chocolate, morango e creme que tomávamos com duas colheres, sujeira e muita cumplicidade. Mamãe sempre deixava a maior parte do sorvete de chocolate para mim que era o meu preferido, mas eu insistia em dizer que era o de morango porque cor-de-rosa era a cor que eu mais gostava.

Hoje estou na praia, vim visitar uma amiga e curar meu coração partido ou, pelo menos, fazer com que ele pare de chorar.

Também estou refletindo enquanto olho para o mar. O mar sempre me acalma, me aconselha e me cura. Em muitos momentos de angústia foi aqui que encontrei alento. Uma vez li a seguinte frase: “A cura para tudo é sempre água salgada: o suor, as lágrimas ou o mar”. Para mim, sempre funciona.

Estou olhando o mar e assistindo um filme da minha vida. Foram tantos momentos em que fiz escolhas erradas…foram tantas atitudes inconsequentes e impensadas…são tantas as lembranças de dor…

Começo a escrever. Faço listas: coisas que fiz, coisas que quero fazer, lugares onde quero ir, shows que quero assistir. Lembrei de um show que vi na praia há muitos anos. Flávio Venturini  cantando enquanto o sol nascia atrás do mar; uma das coisas mais lindas que já vi até hoje. Em Guarapari numa viagem doida, com um bando de desconhecidos enquanto eu buscava respostas num outro momento dolorido da minha vida.

Escolhas. Consequências. Aprendizagem. Vida.

Olhei para o mar de novo. Estava calmo e muito azul. Fechei os olhos e me conectei ao universo, a Deus. Foi bom. Senti uma paz incrível. Me perdoei. Chorei também e, então me enchi de esperança e de coragem. Me senti incrível! E gargalhei. Entrei no mar e lavei toda a dor, toda a culpa, toda a mágoa.

Me libertei dos pesos e deixei lá naquela água sagrada.

Gritei; gritei bem alto, bem alto e forte. Saiu. Tudo. Alma leve e limpa. Olhei pro céu e agradeci.

Andei pela calçada sorrindo e encontrei uma sorveteria; não tive dúvidas! Entrei e pedi uma Banana Split. Não quero nem pensar na dieta agora. Dane-se a maldita lactose! Já sei que vou vomitar tudo mesmo, então deixa! Que hoje é dia de reconstrução! Pedi de chocolate, morango e creme. E pedi outra colher também para minha mãe por que, né? Rituais merecem respeito, façam-me o favor! Tomei o sorvete enquanto olhava para o mar e comecei a escrever esse texto. Me lambuzei de lembranças. Esse chantilly.
Meu sabor preferido continua sendo o de chocolate, mas o cor de rosa ficou tão sem graça com o passar dos anos…
Quando chegar em casa vou ligar pra minha mãe. Vou dizer que minha cor favorita é o amarelo do Sol. E também que eu amo ela demais.

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