A pior coisa que se pode fazer com alguém é velar sua presença e se acostumar com sua partida enquanto ainda está vivo.
É natural termos que deixar algumas pessoas para trás as vezes, mas é um pouco difícil quando a outra parte sente que morreu literalmente para nós. Primeiro vivemos o luto arduamente. Com direito a funeral e a semanas incansavelmente tristes. Nos desfazemos aos poucos de tudo o que nos lembra daquela determinada pessoa. Partilhamos a tristeza da partida com nossos familiares e amigos. Escutamos por algum tempo as musicas preferidas de quem agora já está longe demais para sorrir em conjunto e cantar errado te fazendo morrer de rir aquele refrão que não sai da cabeça. Mas finalmente, quando menos esperamos, os dias começam a nascer com mais claridade novamente. Ativamos o nosso mecanismo de sobrevivência e seguimos em frente. Passamos pelo mesmo caminho e já não dói mais lembrar de como era passar por ali naquela determinada companhia. Aos poucos você se acostuma a não falar sobre essa partida.
Mas será aí, exatamente quando você se desvincular do vício de falar a respeito, exatamente neste momento, você passará os olhos pelo outro lado da rua rapidamente e talvez os olhares se cruzem. Para a tua sorte, neste momento, perceberá que o que te fez se sentir sem chão alguns dias te devolveu a vida. Voce perceberá que viver este luto te trouxe de volta a você mesma. Neste momento, você não terá receio de sorrir, você saberá que não passa de uma mera memória que agora esta em algum canto da sua caixa de lembranças. Em algum lugar bem escondido de você mesma. Voce voltará seus olhos para o seu lado da calcada e continuara em frente para não se atrasar. A vida te chama aí dentro e aqui fora. Não demore a abraça-la.
