Depois de um tempo acho que deu para percebermos que ainda tem muita vida ali do lado de fora. Longe do que costumávamos ser. Quase perto do que nos inspiramos a sentir por tanto tempo.
Me lembro que uma vez você me disse que queria que eu escrevesse sobre o céu, mas eu nunca me sinto à vontade o suficiente para falar sobre coisas que são inexplicáveis. Agora que eu consigo falar com um pouco menos de receio sobre você, acho que o céu se tornou mero detalhe. Esses dias ele ficou metade rosa e metade azul, mas eu não tinha o mar para sentir exatamente o que você sentiu na última vez que me escreveu. De qualquer modo eu acho que entendi a imensidão e a intensidade das suas palavras depois de tantos meses.
Por inúmeros dias, o seu jeito impulsivo alavancou o meu positivamente e acho que eu nunca tive a oportunidade de te dizer obrigada por isso.
Queria te dizer meu bem, que a pessoa certa não existe, não existia e não vai existir. Somos um emaranhado de erros em busca de umas coisas boas para contar. Em busca de um futuro incerto seja aqui, no Canadá ou em uma esquina qualquer. Não sei se você ainda escuta City and colour, se você ainda rabisca versos de filmes ou livros em pedaços de papel e pendura pelo teu quarto. Não sei se ainda não consegue guardar os chocolates que compra ou ganha, se ainda come eles de uma vez só enquanto conta do teu dia a dia ou de histórias que as pessoas geralmente não se sentem à vontade de contar, ou se ainda tem um jeito desengonçado de começar e parar a contar tudo, que costumava a ser meio que o seu charme.
Todas as vezes que eu me enxerguei em você, não senti vontade de me ver em lugar algum além de aí.
Queria te contar que descobri umas bandas boas, e agora eu até consigo ouvir algumas que todas as pessoas escutam. Mas tem dias que eu queria te ouvir falar por horas sobre as composições ou histórias de algumas dessas composições clássicas e antigas.
Talvez você esteja esnobando meio mundo com a sua escova de dentes amarela que tem as sardas laranjas.Embora seja totalmente diferente alguém ter uma escova de dentes nessas cores. Talvez você ainda curta o Dylan e o Hendrix e saiba falar sobre a história de várias composições deles. Pode ser também que você conheça bandas novas de hardcore e fale de um jeito debochado sobre política e o dia a dia que a futilidade das pessoas torna inútil. A ironia sempre foi seu ponto forte.
Muito provavelmente você não virá em uma terça-feira qualquer cinzenta ou ensolarada e não tomaremos uma cerveja nos copos velhos dos botecos baratos de uma esquina qualquer. Espero que alguém esteja te perguntando constantemente sobre o que realmente te faz feliz (por que as vezes você precisa refletir sobre isso com mais intensidade para não pensar que tudo está perdido ou sem sentido), ou para onde você iria se alguém te desse uma passagem de avião neste exato momento (embora a resposta seja extremamente óbvia) e se ainda pode fazer alguma coisa que te anime para os teus olhos não parecerem tão tristes quando você olha pra lugar nenhum por mais de 2 minutos, embora tu concentre o universo meio incolor dentro deles suplicando para que alguém saiba finalmente como te colorir.
É fácil avivar o dia a dia, o difícil mesmo é lidar com umas avalanches incolores de todas as possibilidades que a gente anula antes de pagar pra ver se vai florir ou não, sabia?
Tem dias que me pergunto se você continua lançando tendências de looks que você inventou aí na sua cabeça, mas que acabam fazendo total sentido.As vezes também penso que eu deveria ter aprendido a ser mais prática como você, mas infelizmente a gente nunca está totalmente preparado para absorver tudo de bom que pessoas especiais como você tem a nos oferecer.
Só queria te contar que as vezes eu tenho saudade do tempo em que nossas inseguranças combinavam. Nossas alegrias também. Continuo te desejando uma fé enorme, espero que esteja bem.
Imagem: @umcartao
Você pode ler este texto enquanto escuta: City & Colour – “Hello, I’m In Delaware”
