A pressão para ter filhos

Já não é mais tão incomum conhecer casais sem herdeiros. Mas, infelizmente, são raros os casais que não sofrem, de alguma forma, a pressão para ter filhos.

Sei que meus artigos já estão parecendo GIFs animados, sempre repetindo a mesma coisa, batendo na mesma tecla: a da aversão às convenções sociais. E, na minha opinião, a obrigação em ter filhos, imposta pela sociedade, é uma das mais perigosas destas situações.

Você pode achar que eu estou exagerando. Ninguém obriga ninguém a ter filhos, certo!? Mas posso apostar que quando você conhece um casal mais velho e sem filhos, você mentalmente começa a listar as possibilidades que expliquem a ausência dos rebentos. A primeira coisa que lhe vem à cabeça é infertilidade. Afinal, um casal feliz, bem sucedido, por volta dos 30 anos de idade e sem filhos… deve ser infértil. “Coitados”, você pensa. E se forem inférteis mesmo, você não entende porque eles ainda não adotaram.

Dez em cada dez pessoas pensam exatamente desta forma, segundo experiência própria. E se você questiona a ausência de filhos em um casal, você já começou a cobrança.

 

Numa primeira análise, ninguém pensa que a ausência de filhos em um casal é por vontade deles. Ainda têm-se a ideia de que isso não é “natural”.

Quando um casal anuncia que não deseja ter filhos, o mundo tenta entender o porquê, como se não ter filhos fosse uma aberração da natureza. Crenças religiosas à parte, já devíamos ter superado a ideia de que fomos feitos para procriar, biologicamente falando. As ciências médicas avançaram o suficiente para que a reprodução seja uma escolha e não um evento natural (e obrigatório) da vida humana.

Mas não é uma decisão simples. A partir do momento que se considera que ter filhos é uma possibilidade e não uma sentença, esta se torna uma questão complexa. Mas ainda não conseguimos encontrar esta reflexão abordada de forma madura nas discussões por aí. Todo mundo tem, na ponta da língua, “bons motivos” para você ter filhos. Estes aí embaixo, são alguns que já escutei:

 

“Só conhece o amor verdadeiro que tem filhos.”

Ah, pára com isso gente! Não dá pra amar louca e profundamente um outro ser que não seja seu filho? O amor existe de tantas formas que pra mim não tem um só tipo de amor que seja “verdadeiro”. E mesmo que o amor pelos filhos seja o mais arrebatador, dificilmente você vai sentir falta de algo que nunca sentiu.

 

“Se você não tiver filhos, vai morrer sozinho.”

Sinto lhe informar: você pode ter 12 filhos e ainda terminar sua vida em completa solidão. Afinal, filho não é uma espécie de previdência privada, que você investe para ter alguma segurança no futuro. É, no mínimo, egoísta ter filhos com este fim.

 

“Na dúvida, tenha filhos. Não conheço ninguém que se arrependeu depois.”

Essa eu achei a mais grave, porque na minha cabeça, é completamente o oposto: na dúvida, NÃO tenha filhos! Porque você pode se arrepender sim. E arrepender-se de ter tido um filho é bastante perturbador. Mas isso ninguém te conta, porque ninguém nunca vai admitir que se arrependeu de ter tido filhos.

Colocar um ser humano no mundo é, provavelmente, a coisa mais séria que você vai fazer na sua vida. A que tem consequências mais drásticas na sua existência, e na dele. E é justamente por isso que se você estiver em dúvida, é melhor não ter. Ou, pelo menos, continue pensando até ter certeza (mas pode ser que essa certeza nunca venha).

 

Resumindo, a minha opinião é: tenha filhos se você quer MUITO tê-los. Tenha um filho porque você quer de verdade e não porque a sociedade espera que você os tenha, ou porque você tem medo da solidão. Ter filhos é uma jornada absurdamente difícil, que não tem volta. Esteja certo de que quer embarcar nela.

 

PS.: Neste momento, minhas ideias estão saindo de um cérebro que sofre de restrição de sono há doze meses (desde que saí da maternidade com meu amado filho nos braços). Não sei se isso desabona minha opinião, ou a reforça. Mas por enquanto, só tenho essa pra oferecer…

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