A morte do coração jovem

Meu filme favorito é “O Clube dos Cinco” (The Breakfast Club). É um filme despretensioso, com cara de sessão da tarde, mas carregado de lições.  Fico emocionada todas as vezes que assisto, ele me da saudade da jovem que fui, a jovem carregada de ímpeto, força, fúria e sonhos. Eu acreditava piamente que eu não me venderia, que eu não deixaria para depois, que eu não viveria a vida dos meus pais, porque eu sentia o mundo vivo dentro do meu coração, e isso certamente seria um sinal de que eu seria diferente. E aí que vem uma frase desse filme:

“É inevitável, acontece. Seu coração morre quando você cresce”.

Meu primeiro sonho para o futuro foi ter uma banda, e viver disso. Eu queria dizer verdades para o mundo, eu queria gritar o quanto ele estava errado. Bom, a banda rolou, mas o talento para viver disso não. Deixei de lado, e decidi que ia ser jornalista, afinal de contas eu ainda poderia dizer ao mundo o quanto ele estava errado, só não poderia gritar. Comecei o curso, e aquilo me encantou, descobri muitas coisas e pessoas incríveis. E então descobri também que a grana era curta, e o sonho era longo. Deixei de lado para cursar algo mais barato e que trouxesse retorno financeiro em curto prazo, e prometi  um dia voltar.

Lá se vão quase dez anos. Não voltei. A possibilidade de nunca voltar é gigantesca.

Ok, ok. Não posso dizer que sou infeliz, ao contrário, sou muito feliz. Formei-me, e realmente gosto daquilo que se tornou minha profissão. Mas vivo pensando: “Quando é que finalmente vou dizer por mundo que ele está errado?”. Na verdade, me esforço pra lembrar de quando isso deixou de ser uma prioridade,  e me esforço mais ainda para sentir essa prioridade novamente em mim. Chego a conclusão que meu coração morreu para meus ideais no exato momento que aceitei viver em meio ao “errado” do mundo. Em meio às contas, os afazeres, as reuniões, as idas e vindas, ficou difícil encontrar um tempo pra ser quem aquela jovem sonhou em ser.

As vezes me pego pensando no que a jovem pensaria sobre mim. Será que ela ia gostar de mim por pelo menos ainda ser bacana, ter conservado os velhos amigos, ser feliz na maior parte do tempo e ter um cachorro enorme. Ou teria vergonha pela roupa social, sapatos, crachá, visitas preventivas ao médico e resiliência com as mazelas do mundo. Não dá pra saber, né? O que me consola é a frase do filme, me consola pensar que é inevitável, e por tanto eu não tenho tanta culpa. Afinal, inevitável, acontece. Seu coração morre quando você cresce.

One thought on “A morte do coração jovem

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *