Hoje eu não vim ser linear.
Nem conexa ou precisa.
Tem dias que o coração canta uma crônica e aí nada fará sair artigo.
Tem dias que a mão vagueia sobre o teclado, sem rumo, feito gente apaixonada andando pelas calçadas da cidade.
A paixão é uma coisa engraçada não é?
A gente até esquece que é gente. Vira poesia de sambar.
É um negócio bonito.
Mas se a paixão é negócio, o amor há de ser puro ócio.
Dizem que ócio é coisa de vagabundo, de gente que não conseguiu fazer mais da vida.
Talvez o amor também seja.
Sublime, no ócio cabe um universo em expansão.
Amor pode ser aquele quarto escuro de revelar fotos.
Meu avô revelava fotos. Fazia móveis e fotografava coisas. Me pego imaginando a sutileza da poesia de um ser humano que sabia transitar entre o concreto da madeira e o abstrato de um momento capturado nas lentes de uma câmera.
E quantas vezes não ando na corda bamba entre o solo firme e os ventos em mim… Com medo de cair na água. Medo de virar pó na fogueira da inquisição de um olhar qualquer.
Essa é a difícil madeira de ser. Ser lenha sem virar carvão.
Mas se até carvão vira lápis de riscar chão nas mãos de uma criança, algo há de dar certo para a gente. Para a gente pular uma, duas casas na amarelinha do quintal e dali mesmo voar para algum lugar que tenha o cheiro da nossa alma.
Dando certo amanheceram muitos sábados atemporais cheios de pássaros para contemplar. Risadas inesperadas, histórias contadas e aconchegos diversos. Olhos nos olhos, comida pronta esperando no fogão, bilhetinho na pia de casa ou na mochila. Flores, cerveja de coentro e abraço de mãe. Cheiro de banho tomado, artesanato espalhado.
O cheiro de alma é o cheiro da própria caminhada.
ADOREI.
Fico feliz que tenha gostado, Sônia!