Desde que me conheço por gente eu ouvia minha mãe falar:
“Você está muito gorda. Vai comer doce? Os outros vão falar mal de você”
Dai eu ia lá e emagrecia:
“Você está muito magra. Está todo mundo falando que você está com cara de doente”.
E eu pensava, “poxa tudo o que eu faço nada está bom. Nada está certo. O que eu faço de tanto errado?”. E com isso vem, porque eu nasci, porque ela não gosta de mim, porque, porque e mais porque. Me frustrando cada vez mais.
Me tornei refém de uma “sociedade”, da minha mãe, do mundo… simplesmente por ela viver preocupada com o que as pessoas falavam ou pensavam. Eu e meus irmãos tínhamos que ter a educação perfeita, ser os filhos perfeitos, onde todos queriam que seus filhos fossem igual a nós.
Mas eu não era assim, eu não queria ser assim, não podia praticar luta porque era de menino, eu tinha que fazer balé ou jazz, tive que sair da natação (que eu amava), porque meu corpo estava “deformando”. Tinha que ajudar ela em casa, se não ajudasse não podia sair pra brincar.. enquanto meu irmão (um ano de diferença de mim) ia pra rua… eu tinha que arrumar a cama dele, passar a roupa dele. E isso não entrava na minha cabeça, não era justo… E não é.
De todos os problemas que tive com minha mãe, o peso era uma coisa que pegava muito também… Eu nunca fui uma criança magra, ela sempre dizia que gostava de bebês gordos.
Porém, os bebês crescem. E eu cresci. Meu irmão tinha problemas de bronquite, rinite, pneumonias e então nossa infância foi regada a Sustagem, Arovit, Biotônico Fontoura e todos os fortificantes possíveis e impossíveis que possam imaginar. Mas eu não tinha problemas com a saúde, não ficava doente, mas ela dava pra ele e pra mim.. Porque? Talvez pra caso não vir ficar doente.
Realmente nunca fiquei, mas todas essas vitaminas vieram fazer efeito agora, depois da adulta… Conforme fui crescendo, fui engordando mesmo sem comer, sempre gostei muito de doce, comia um pedaço de bolo e queria mais um, daí eu ouvia:
Você vai ficar igual a Wilza Carla!!
Eu não sabia quem era, mas pelo tom dela imaginava que era alguém bem gorda…
Isso sempre me magoou muito, chorava escondida porque eu não sabia o porquê eu engordava, ela fez vários exames em mim, nada constava, nem tireoide. Chegou uma época que eu tomava um copo de leite por dia e não sentia fome, mesmo assim engordava.
Desenvolvi anorexia nervosa…Passou o tempo e eu vim morar em SP, meu auge do peso, cheguei nos 82 Kg. Eu não queria aquilo pra mim, eu não gostava de ser gorda, sempre as palavras da minha mãe vinha na minha cabeça. Comecei a procurar tudo que pudesse emagrecer, tomei de tudo, desde sibutramina à coisas naturais e nada resolvia.
Até que uma vez, aqui no programa que eu trabalho, veio um médico falar sobre metabolismo e emagrecimento, eu sentei pra conversar com ele, e a primeira pergunta que ele me fez foi como foi sua infância? Qual era sua alimentação?
Quando eu contei, ele me falou não precisa nem continuar, toda essa vitamina que você tomou quando pequena, sem necessidade, está fazendo efeito agora, acabou com o seu metabolismo, você não vai conseguir emagrecer sem exercícios, e muuiiitoooo exercício, para que você possa ter queima de metabolismo, associado a um termogênico.
Foi aí que eu comecei a fazer Muay Thai, em quatro meses, emagreci 20 kg, rápido assim porque era só água que eu tinha no corpo. Comecei a tomar também termogênicos.
Cheguei a pesar 56 Kg.
O peso que eu queria, nunca na minha adolescência tinha vestido 38, conclusão, parei, em dois anos engordei novamente 10 Kg, percebi que jamais vou poder parar, vou viver constante com a tal “briga com a balança”.
Hoje faz 07 anos que faço Muay Thai, quando eu relaxo mais eu engordo, e vivo nesse efeito sanfona porque não deixo de comer o que eu quero ou tenho vontade.
No fim, não era minha culpa de ser gorda, não era minha vontade ser gorda, não era porque eu queria. Era porque a história de crianças gordinhas são bonitas tem um preço mais pra frente. E esse preço não é legal.
