Você tem fome de quê? Um manifesto pelo direito de comer comida de verdade

Um manifesto pelo direito de comer comida de verdade.

Virou polêmica nos últimos dias o tal suplemento que João dória quer introduzir na alimentação das escolas e da população de baixa renda da cidade de SP. Muita gente a favor, muita gente contra, opiniões técnicas e muitas dúvidas.

A prefeitura argumenta que além que resolver uma questão delicada que é o descarte de resíduos sólidos (toda a comida que não foi vendida nos mercados) a medida trata as necessidades nutricionais da população de baixa renda e de rua que não tem acesso a uma alimentação adequada.

Mas comida é somente nutrição dos nossos corpos?

Sim, pobre tem hábito alimentar, que por definição é: “Tipos de escolha e consumo de alimentos por um indivíduo, ou grupo, em resposta a influências fisiológicas, psicológicas, culturais e sociais”( Dutra, 2001).

Comer além de uma necessidade do corpo é algo cultural, em cada região que conhecermos vamos encontrar um hábito alimentar totalmente diferente do outro, desde ingredientes, modo de preparo e nomes desses alimentos até a forma de comer, com a mão, com talheres, e a união ou separação das pessoas na hora da alimentação.

Sim, existe deficiência de nutrientes entre grupos carentes, então mais importante e eficaz do que distribuir o tal suplemento em escolas e cestas básicas é avaliar quem necessita através de medicina familiar e analise caso a caso, como antigamente a pastoral da criança fazia com os menores que se apresentavam desnutridos e que hoje já se prova ineficaz se aplicado isoladamente, sem o suporte de outras politicas para melhoria da alimentação.

Recentemente a prefeitura de SP cortou o acesso ao programa leve leite de milhares de crianças, pois elas não se enquadravam numa situação de necessidade, então é contraditório que agora se estenda a alimentação através de suplemento para todas, pois seguindo o critério do leve leite, não são todas que necessitam.

A medida tomada pela prefeitura, o tal super alimento destinado a pobres, me lembra a trama diabólica do filme Soylent Green, que mostra uma sociedade distópica onde a população carente recebe uma comida energética especial, produzida de forma polêmica e sem conhecimento publico, com personagens que nunca viram ou provaram uma fruta ou legume fresco.

Descaracterizar a comida de um grupo social baseado em seu poder de compra é descaracterizar sua própria humanidade.

Como, sendo reduzido a um ser alimentado por ração feita de restos de comida uma pessoa vai se reconhecer digna para lutar por seus direitos sociais e por sua própria dignidade?

Mas e a fome?

O programa Bom prato, com diversos restaurantes espalhados pela capital, oferece refeição de qualidade, variada e com alto teor nutritivo por 1 real!1 real! Comida de verdade, preparada no dia, aquecida. Que tal estender o programa para também servir o jantar? Além de alimentar pessoas, geraria mais empregos para cozinheiros e auxiliares.

Que tal, ao invés de fazer parcerias para comprar o tal maravilhoso super alimento processado a partir daquilo que não será vendido, uma parceria com o Ceagesp? E que a população cadastrada possa comprar as batatas ‘feias’ que a classe média não quer comprar por preços acessíveis?

Ou a medida tomada já em alguns países em que mercados disponibilizam esses vegetais feios por até 30% mais barato? Ou mercados com prateleiras de produtos gratuitos em que as pessoas pegam o que precisam?

Se os alimentos utilizados na tal ração ainda estão bons para consumo, mas fora de condições de venda, porque não doá-los assim antes de gastar ainda mais dinheiro transformando essa comida em algo de grande questionamento ético?

Com boa vontade e respeito pelas pessoas é possível fazer muito mais do que desumanizar pessoas carentes, já tão vulneráveis e necessitadas de politicas publicas que as trate como manda a Constituição Federal em seu artigo 6º.

Nossas crianças merecem merenda de verdade, pagamos impostos para isso. População carente merece comida de verdade, pagamos impostos para isso. Com tantas parcerias em tantas áreas alegando economia dos gastos públicos, com uma câmara gastando milhares de reais por mês para comer queijos e sucos, não tenho provas, mas tenho convicção que há dinheiro para fazer mais e melhor que isso.

 

 

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