Uma carta para você, mulher, no futuro

Estamos em 2038.

Você está mais velha, com rugas e olheiras, porém, com o brilho presente nos olhos. O mesmo brilho de garota, que descobriu que poderia ser o que quisesse, de astronauta até musicista de cabaré. Você se olha no espelho e sorri. Sua mão direita contorna, suavemente, as ruguinhas que você tem na testa. Elas estão aí porque você lutou com todas as suas forças e venceu. Venceu as preocupações, os problemas, a sociedade. Você olha sua mão e vê aquele pequeno corte no dedo mindinho – você o fez quando foi cortar alguns vegetais, preparando um jantar especial para os amigos, comemorando o novo trabalho. O sangue jorrou, acabou com a cenoura, mas você ria. “Olha como eu sou desastrada”. Você e seus amigos se divertiram.

Você percebe que seu corpo mudou, não é mais aquele que você tinha aos 25 anos. Eu sei, não é fácil olhar e simplesmente aceitar – o tempo passou rápido e você nem o viu passar.  Você olha as cicatrizes pelo corpo todo: o joelho que ralou quando era pequena, a queimadura na mão ao fritar ovo e a cicatriz da cesária. Você passa a mão e lembra com carinho e saudade do parto, do momento doloroso e mais puro. Você lembra dos seus sonhos, suas metas e sente uma ruguinha se apertar. É impossível segurar a lágrima que escorre pela sua bochecha.

Você vai até a cozinha preparar uma xícara de café e percebe que velhos hábitos não mudam. Às vezes, você coloca café, mas prefere puro e forte – como na época que ia para a faculdade. Você se senta e começa a rir dos desesperos e perrengues que passou na universidade. O TCC? Passou. Os amigos? Poucos ficaram, mas o que ficaram… Ah, esses continuam até hoje. Os xerox, a comida, contando moedas para a passagem de ônibus e as noites de bebedeiras. Você ri com gosto. Você venceu, quando pensou que não acabaria. Você toma o café e sente-se feliz ao saber que finalizou com gosto e felicidade uma etapa importante em sua vida.

Quando o café acaba, você lembra do seu primeiro emprego; aquele que foi conquistado com muita luta. Então, vem o segundo, terceiro, quarto e quinto empregos. Lembra quando você jurou que não ia mudar mais de ramo? A vida te reinventou e deu certo. Você aguentou chefes, estresses, cafés ruins, marmitas, telefones, documentos que não foram salvos, queda de energia e chuvas e seguiu seu caminho. Eu sei, você queria ter feito mais, mas o tempo é curto e a vida é assim mesmo, mas não tenha vergonha e não se pressione – você foi maravilhosa.

Agora, você está sentada e relembrando o seu quarto aniversário. Você se lembra o que desejava para sua vida? Você queria ser tudo e feliz. E mesmo com os obstáculos e as dificuldades, você conseguiu. Parabéns, mulher. Mulher de força!

Você olha para sua mão e vê que não é a mesma do passado. Você analisa bem e sorri. Valeu a pena.

Estamos em 2038. Você é mais velha, amadurecida. Você passou por muitas coisas de cabeça erguida e encontrou forças nos piores momentos. Eu preciso te dizer uma coisa: os carros ainda não estão voando, como no desenho Jetsons, mas a tecnologia avançou – e muito. As mulheres continuam lutando cada dia mais por igualdade, e essa luta vai continuar, nunca terá fim. Você está mais velha, mas continua aqui, vivendo, sorrindo e empoderada. Não se perca, mulher, você é mais!

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