PRÁTICAS DO BDSM: WAX E FIRE PLAY

Come on baby, light my fire!

   O BDSM é uma prática que une o prazer e a dor, ou melhor, onde muitas vezes se obtém o prazer pela dor. O Wax Play, ou Jogo com Velas, é uma prática sensual e que pode ser muito prazerosa mas, certamente, é uma das que oferecem maior risco imediato. No fire play é o fogo que entra em contato com a pele, vamos entender melhor essas práticas, seus riscos, cuidados a serem tomados. Para isso, a primeira coisa que devemos fazer é tirar da cabeça a celebre frase: “Não brinque com fogo se não quiser se queimar”.

SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR!

Além da consensualidade, o BDSM preza que as práticas sejam aplicadas da maneira mais segura possível, é obvio que após uma sessão de wax e fire play, dependendo da intensidade, vão aparecer marcas e a pessoa vai ficar dolorida, mas a segurança citada trata de evitar traumas nocivos à saúde, por isso antes de qualquer sessão tudo é conversado, principalmente no caso de sessões avulsas (onde não há uma relação estabelecida), quando existe um contrato esses limites já foram informados.

A questão toda é que o bom senso é essencial, o São do SSC (São Seguro e Consensual), é vital para uma sessão segura. Então não é indicado o consumo de álcool nem de nenhum tipo de entorpecente, nem pelo Top nem pelo bottom, é muito importante também que o Top conheça, entenda e respeite os limites do bottom, uma vez que ele pode perder o controle sobre si e não conseguir pronunciar a Safeword, ou um gesto ou sinal pré-estabelecido caso a comunicação verbal esteja interrompida.

Toda prática exige estudo dos envolvidos, sim, até mesmo para prender as mãos com um lenço é preciso entender de anatomia e quais são os riscos, é sempre indicado que Dominadores que gostam de extrapolar alguns limites e praticantes de técnicas mais perigosas tenham uma noção de primeiros socorros caso se faça necessário.

O WAXPLAY

O Waxplay é a prática que envolve o uso de velas no corpo do bottom, o que pode ocorrer de duas maneiras: apoiando as velas e forçando a imobilização física por causa do risco e o mais comum, pingando a cera derretida sobre o corpo.

É uma prática considerada muito sensual, prazerosa e bonita, porém requer muita atenção e cuidados para que não aconteçam acidentes, para isso temos que levar em consideração vários fatores determinantes para uma sessão de sucesso:

  • Testar a sensibilidade do bottom: é essencial fazer testes em partes do corpo que são mais resistentes ao calor (vou explicar como já já), verificar se o bottom possui alergia à possíveis aromatizantes ou corantes presentes nas velas escolhidas;
  • Escolher o tipo adequado de cera: a cera indicada para esse tipo de prática é a de parafina com óleo mineral, seu ponto de fusão é de 60°C, o que evita queimaduras;
  • Distância entre a vela e o corpo: vamos à explicação que fiquei devendo, a resistência a dor e a calor varia muito de pessoa para pessoa, para entender o limite a ser respeitado é indicado que sejam feitos testes. Como fazer o teste? Vá pingando a cera da parte interna do braço começando a uma distância entre um metro e trinta e um metro e vinte, e vá diminuindo gradativamente até chegar ao ponto que o incomodo se torna insuportável, a partir daí o Top saberá a que distancia deverá manter a vela do corpo do bottom. O ângulo da vela também determina a quantidade de cera despejada, uma quantidade muito grande despejada de uma vez só pode gerar uma necessidade de uma distância maior. É muito, muito, mas muito mesmo importante lembrar que as mucosas do corpo humano são mais sensíveis, logo, é importante tomar muito cuidado com a distância e quantidade de cera, refaça o teste. O Waxplay envolve paciência, são sessões que podem durar horas devido às variáveis envolvidas.
  • Usar óleo corporal nas áreas com pelos: recomenda-se o uso para evitar que a cera fique grudada, no caso de sessões em que a parafina vai ser jogada nas costas, é importante proteger o cabelo de possíveis respingos, isso pode ser feito com o uso de óleo ou enrolando a cabeça com um lenço;
  • Removendo a cera: aquela parte em que a criatividade entra em cena, a cera pode ser retirada com a ajuda de uma faca (não precisa ser afiada e exige cuidado e conhecimento do Top sobre o manuseio da mesma), pode também ser retirada durante uma massagem, e por quê não durante um castigo com tapas ou utilizando um floger ou chicote.

Não usar nunca:

  • Velas de cera de abelha: o ponto de fusão é de 120°C, ou seja, queimadura na certa;
  • Velas à base de parafina em gel: esse tipo de parafina é altamente inflamável, o que gera um alto risco de incêndio;
  • Velas de espermacete de baleia: tem um cheiro muito ruim e é extraída de animais em extinção;
  • Vela de estearina: também é uma vela de origem animal que possui um cheiro nada agradável;
  • Velas coloridas e aromatizadas (vendidas em mercados e lojas de artesanato, esotéricas, etc): é muito difícil de identificar os tipos de corantes e aromatizantes utilizados, esses corantes e aromatizantes também aumentam a temperatura de fusão, aumentando o risco de queimaduras;

PREPARANDO O AMBIENTE PARA O WAXPLAY:

Leve em consideração que vai fazer sujeira, vai respingar parafina sim e parafina é bem difícil de limpar. Então vou dar a dica de ouro para que haja diversão sem arrependimento na hora da faxina: Forre o local! Simples né? Você pode usar: cortinas de plástico (aquelas de banheiro), toalhas plásticas de mesa (daquelas que vende por metro), saco de lixo aberto, qualquer tipo de lona ou o bom e simples lençol velho;

Tenha uma local com uma superfície dura e firme para apoiar suas velas;

Tenha também uma vasilha com água, gelo e uma toalha de mão, caso seja necessário aliviar a pele após algum excesso.

AFTER CARE PARA O WAXPLAY:

Em todas as práticas o cuidado posterior é essencial. O after care é momento de conversar, voltar ao mundo real, verificar como está o psicológico do submisso. Se não houver queimaduras graves (bolhas, feridas, descamações), o indicado é uma massagem com loção hidratante, as mais indicadas são as que possuem Aloe Vera e/ou Vitamina E. Caso tenha ocorrido algum problema ao final dessa coluna vou deixar informações sobre como proceder.

O FIRE PLAY:

A mais quente das práticas requer perícia e muito conhecimento por parte do Top e muita confiança por parte do bottom. É uma das práticas conhecidas como Edge Play (jogos extremos), consistem em usar uma chama próxima ou diretamente sobre a pele. Existem muitas técnicas diferentes a serem utilizadas, e todas elas dependem da troca de confiança entre os envolvidos, muito cuidado, segurança e preparação para dar certo:

  • Bare hand (mãos nuas): o top mergulha a mão em álcool e a acende, de acordo com a tolerância do Top a mão pode acariciar o bottom ou então dar tapinhas que façam com que o fogo se apague;

  • Boncing (quicar): utiliza-se um bastão aceso batendo-o contra a pele do bottom. O bastão pode ser batido com força suficiente para apagá-lo, a mão livre é utilizada para apagar a chama que foi acesa;
  • Dragging (arrastar): utiliza-se um bastão aceso contra a pele formando linhas longas ou outros tipos de padrão, a mão livre é utilizada para apagar a chama que foi acesa;
  • Drawing (desenhar): utiliza-se um bastão apagado embebido em álcool formando um rastro na pele, em seguida utiliza-se um bastão aceso para acender o desenho, a mão livre é utilizada para apagar a chama que foi acesa;
  • Fireball (bola de fogo): utiliza-se um burrificador que gere uma neblina muito fina, com álcool, o bastão já aceso deve ser segurado em média a um metro de distância do bottom e um esguicho deve ser jogado acima desse bastão aceso. Isso gerar uma bola de fogo com muito calor e muita luz, é uma técnica que exige muito treinamento e prática;
  • Firecupping: utiliza-se um bastão aceso, esfregando-o dentro de uma ventosa, aquecendo assim o ar dentro dela, o Top aplica rapidamente a ventosa ao corpo do bottom, o ar que esfria caba gerando um vácuo e prende a ventosa no corpo do bottom, essa técnica também é utilizada em algumas terapias de origem oriental;
  • Fire Flogging (chicote de fogo): Utiliza-se um chicote de kevlar aceso, é uma técnica que exige muito conhecimento e cuidado;
  • Flash Cotton: utilizam-se pequenos chumaços de algodão previamente afofados (utiliza-se um pente para deixar as fibras mais afastas), para formar pequenos desenhos. Esses chumaços geram uma bola de fogo rápida, que gera muita luz e muito calor, o que pode assustar o bottom que não está acostumado à essa técnica, é importante testar os chumaços de algodão para verificar se foram devidamente afofados;
  • Gloves (luvas): utiliza-se uma luva de kevlar, com essa luva acesa o top pode acariciar ou bater no bottom, nesse caso é necessário atentar-se à temperatura interna da luva para evitar queimaduras no Top.

PREPARANDO O AMBIENTE PARA O FIRE PLAY

Antes de mais nada é importante relembrar que essa é uma prática que envolve muitos riscos, por isso é importante detalhar o máximo possível os cuidados. Não tente praticar se você não possui conhecimentos sobre as técnicas e primeiros socorros, nem caso falte algum dos itens de segurança.

Antes da sessão começar:

  • Certifique-se de que possuí todos os itens necessários;
  • Certifique-se que os bastões ou tochas estão com suas cabeças bem presas;
  • Não faça cenas com o bottom sentado ou em pé;
  • Mantenha o excesso de combustível afastado da cena;
  • Estude, treine e tenha certeza que está preparado, comece com técnicas mais simples ou que você tenha uma identificação maior.

PREPARANDO O TOP E O bottom PARA O FIRE PLAY:

  • É de extrema importância que o Top esteja muito concentrado, foco é essencial;
  • Como em todas as práticas é totalmente contraindicado o uso de bebidas alcoólicas e alucinógenos;
  • É importante que o Top esteja vestindo roupas adequadas, que devem ser mais justas, sem sobras de tecidos ou barbantes e com mangas justas para diminuir o risco de acidentes;
  • A confiança e o planejamento são essenciais, é muito importante que o bottom saiba o que vai acontecer, isso vai evitar situações de pânico ou gatilhos de traumas com fogo;
  • O bottom deve ser instruído a não utilizar nenhum spray de cabelo, loção corporal, perfume, etc, o ideal é tomar um banho antes da prática;
  • O bottom deve estar nu, evitando o risco de colocar fogo em suas roupas;
  • Evite usar piercings, eles podem aquecer causando queimaduras graves;
  • É importante que o bottom não tenha feridas, mesmo que em fase de cicatrização, abrasão, impacto pesado ou qualquer prática que sensibilize a pele por no mínimo 24 horas de antecedência.

O SPOTTER:

O Spotter, aqui no Brasil conhecido como olheiro, é uma pessoa escolhida para tornar a sessão mais segura, utilizado principalmente em cenas abertas, ele atua como um assistente para o Top, assumindo várias tarefas mais simples ajudando o Top a manter o foco. É sempre uma pessoa já acostumada com a prática, calmo e que se mantenha tranquilo em situações de emergência. A comunicação entre o spotter e o Top deve ser clara e direta, e o spotter pode avisar para o Top caso perceba algo errado ou preveja um acidente. A função principal do spotter é manter o bottom seguro, como funções secundárias estão manter as pessoas (em caso de cena aberta) a uma distância segura.

COMBUSTÍVEL:

  • O único combustível aceitável é o álcool ISOPROPIL em concentração de 70%;
  • Não utilize álcool etílico, se pensou em usar leia o novamente o item acima;
  • Para ter mais controle sobre as chamas misture sal ao álcool, assim ele não queimará translúcido, permitindo que o Top veja onde estão as chamas;
  • É importante que o Top tenha controle absoluto sobre o combustível, deve-se sempre molhar o bastão, pele ou algodão com uma quantidade pequena, evitando que o álcool escorra ou se espalhe, é imprescindível que o bottom avise caso sinta o álcool se espalhar demais;
  • As combustões não podem durar mais que 2 ou 3 segundos, e sempre é necessário ter uma mão livre para apagar a chama.

EQUIPAMENTO:

  • Álcool Isopropil 70%;
  • Uma tigela de material sólido que não seja plástico apoiada sobre uma superfície plana e forte para que não corra o risco de virar, o ideal é coloca-la dentro de uma badeja com abas para evitar que o álcool escorra caso haja um derramamento;
  • Uma vela larga e baixa, preferencialmente alocada dentro de um copo, evitamdo assim que ela tombe;
  • Um bastão de fogo com material 100% algodão, qualquer tipo de material sintético é totalmente proibido;
  • Uma mesa para colocar seus itens de maneira organizada;
  • Uma toalha molhada dobrada em forma de sanfona, em um lugar de fácil acesso para o Top;
  • Uma toalha de mão seca;
  • Kit de primeiros socorros com: bolsa de gelo, creme para queimaduras, creme bactericidas e os outros itens mais comuns;
  • Extintor de incêndio

NÃO MANTENHA SEU COMBUSTÍVEL PRÓXIMO A SUA FONTE DE CALOR!!!

LOCAL:

  • Escolha um local com o mínimo de meios inflamáveis possíveis. O que são meios inflamáveis? Cortinas, carpetes, mobília, etc. O ideal é deitar o bottom sobre uma mesa de material não inflamável, indica-se o uso de um cobertor anti-chamas;
  • Evite a presença de muitas pessoas próximas à cena, exceto o spotter, isso vai evitar que alguém esbarre no seu equipamento causando um acidente, nem é preciso dizer que não se deve deixar animais e crianças próximos ao local da sessão;
  • Tenha sempre a toalha molhada, dobrada em forma de sanfona próxima das mãos, se ela estiver dobrada pode não ser útil, uma vez que a sua função é ser colocada rapidamente sobre a fonte de fogo que deve ser extinguida;
  • O extintor deve estar ao alcance das mãos, mas nunca deve ser usado sobre o bottom, a função dele é proteger o espaço.

O AFTER CARE PARA FIRE PLAY:

Como já foi dito, em todas as práticas o cuidado posterior é essencial. O after care é momento de conversar, voltar ao mundo real, verificar como está o psicológico do submisso. No caso do Fire play, o After Care inclui uma avaliação atenciosa do bottom. Caso não haja nenhuma queimadura, bolha, escamação, o ideal, assim como no wax play é uma massagem com uma loção hidratante com Aloe Vera e/ou Vitamina E, também podem ser aplicadas loções pós Sol. Caso haja alguma bolha ou ferida é indicado procurar ajuda médica para ser orientado sobre o cuidado correto. No caso de algum acidente, siga as instruções de primeiros socorros a seguir.

SINTOMAS DE CHOQUE:

  • Pele fria, com aparência muito pálida ou acinzentada;
  • Pulso fraco e acelerado;
  • Respiração lenta ou hiperventilação;
  • Pressão baixa;
  • Enjôo e/ou vômito;
  • Olhos vidrados, pupilas dilatadas;
  • Se consciente, a pessoa parece fraca e confusa ou pode estar muito agitada e ansiosa.

PRIMEIROS SOCORROS PARA QUEIMADURAS LEVES:

  • Refrescar a área com compressas frias;
  • Retirar qualquer elemento que comprima a área lesionada;
  • Lavar a área afetada com água e sabão neutro e secar delicadamente evitando fricções;
  • Desinfetar a área com antisséptico comum;
  • Não aplicar pomadas ou loções antes de procurar ajuda médica;
  • Caso a queimadura se localize em um local sujeito a fricções (meio das coxas, parte interna do braços, etc), fazer um curativo bem limpo.

PRIMEIROS SOCORROS PARA QUEIMADURAS EXTENSAS:

 

ANTES DE MAIS NADA LIGUE PARA O BOMBEIRO OU SAMU!

 

 

Logo após apagar o fogo entre em contato solicitando apoio profissional e qualificado. Informe de maneira clara sua localização e o que ocorreu, caso alguém esteja em choque é importante informar também.

  • Tirar a roupa que reveste a área afetada com muito cuidado, de preferência com uma tesoura, não tentar retirar pedaços de tecidos que estejam grudados na pele ou carbonizados;
  • Retirar todos os elementos que comprimam a área afetada;
  • Refrescar a área irrigando-a com água limpa e fria;
  • Manter a vítima deitada, evitando assim um possível quadro de choque.

TIPOS DE QUEIMADURA:

  • Queimadura de primeiro grau: atinge a camada superficial da pele, causando vermelhidão, e uma ardência no local;
  • Queimadura de segundo grau: atinge uma região secundária de pele, entre a derme (camada exterior da pele) e a epiderme (camada inferior da pele), nota-se o aparecimento de uma ou mais bolhas na área afetada;
  • Queimadura de terceiro grau: atinge uma área mais profunda da pele, podendo incluir até o tecido ósseo, e costuma apresentar uma necrose no local afetado.

Agora que você já sabe todas as medidas de segurança necessárias, compre uma vela e chame o crush para literalmente aquecer a relação.

3 thoughts on “PRÁTICAS DO BDSM: WAX E FIRE PLAY

  1. Alucard says:

    O álcool ISOPROPIL 70% o qual esta matéria se refere seria o álcool ISOPROPÍLICO, usado para limpeza de componentes eletrônicos? Fiquei curioso agora.

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