Com os vinte e tantos anos você passará a valorizar coisas que achava demais aos 15 e passou a se desinteressar aos vinte: coisas como passar uma tarde experimentando roupas e óculos em qualquer loja movimentada em uma tarde fria de sábado com uma amiga.
Passará a valorizar os bons dias que te mandam pelo celular mesmo, prezando a compreensão das pessoas quando a rotina te engole e ainda assim elas estão por ali, te lembrando que não importa o que aconteça: elas permanecerão. Geralmente essas pessoas serão parte daquele clichê maravilhoso: farão seu mundo continuar a girar.
Começamos a nos envolver menos com as pessoas que só aparecem de repente, a gente percebe que é importante manter a vitalidade e energia fortalecidas para suprir as pessoas que estão voluntariamente mais próximas. As pessoas que não tem motivo algum para nos surpreender e ainda assim fazem sem esperar nada em troca.
A gente aprende a segurar firme a barra do tudo ou nada que podem nos dar. Aprende a depositar intensidade em uma medida menos frenética em qualquer coisa que sente.
Passamos a nem ligar se é sábado e estamos em casa com os irmãos e o restante da família sentados no sofá comendo uma caixa de chocolates enquanto rola um filme na tela quente e todo mundo briga pelo alpino solitário ali no canto da caixa lotada de outros chocolates. Passa a fazer mais sentido um open de companhias boas do que um de tequila.
Voce passará a não ter medo de aceitar que suas escolhas dizem para onde você irá. A saber exatamente onde quer chegar mais rápido e onde nunca mais gostaria de pisar os pés, com toda a certeza.
Aprenderá que se você não livrar seu corpo das pioras eventuais, sua saúde e sua mente não aguentarão o restante da semana frenética que vem pela frente. Você entende a importância dos antibióticos no horário certo e passa a ver seus próprios limites na corda bamba. Voce se sentirá responsável pela própria vida.
A palavra estabilidade começa a nos confortar mais do que qualquer uma. Embora em alguns aspectos gere comodismo, estar em território seguro: seja emocional, profissional ou familiar é confortante.
Começamos a valorizar duas ou três horas de uma conversa que vá de 8 a 80 sem a outra pessoa estar no celular ou se importando em mostrar para o mundo onde está exatamente: se torna mais importante fazer parte do universo tão pequeno e tão gigante que está com os olhos nos nossos olhos do que os holofotes do Instagram.
Alguns amigos do trabalho se tornam parte da sua família. Ainda que o trabalho mude, a cidade mude, as rotinas mudem: essas pessoas serão eternas na sua mente e no seu coração. Quando você menos esperar estará simulando dias e horários de voos que caibam no orçamento só para ganhar aqueles abraços, risadas e conversas de novo. Sua casa se tornará onipresente: Voce terá um pedacinho do seu coração em cada cantinho desse mundo maluco.
Sentirá que passou a sorrir com mais intensidade, mas que quando chora o peso é equivalente: os momentos felizes te deixam mais feliz que antes e os momentos tristes te fazem repensar toda a sua trajetória.
Passamos a realmente notar mais valor em coisas simples, nos apaixonamos por tudo o que nos assume, e a valorizar quem percebe que precisa sumir sem que tenhamos que ficar repetindo isso sempre.
Voltamos a ouvir as musicas antigas e cantamos com mais emoção, algumas letras passarão a fazer mais sentido e outras te farão rir por pensar que aquilo também já te atingiu.
Em alguns dias estar sozinho será seu paraíso, em outros não escutar outra voz familiar no final deles será um inferno.
O significado de constante será reinventado: por que você passará a limitar algumas frequências de idas e vindas na sua vida.
Desejo que caso voce sinta saudade do passado ou até mesmo de coisas que não viveu ainda, perceba que é necessário se apaixonar o mais rápido possível pelo agora para que viver ele não seja como um peso para ti, para que te faça ter vontade de ter na pele, nos discos, nas fotos, para que suas memórias não te traiam, para que tudo isso faça sentido nos 30 e poucos e tantos outros que podem superar suas próprias expectativas.
