Os desafios das minas da tecnologia

Você já parou para pensar por que existem poucas mulheres na área da tecnologia? Se sua resposta tem a ver com “ah, por que isso é coisa pra homem” ou “porque elas não vão atrás”.

É preciso pensar que, longe de ser falta de vontade ou afinidade, essa defasagem revela um problema muito mais profundo. Falta incentivo, apoio, representatividade. Sobram travas e – HELLOOO, 2018 – preconceitos para seguir nessa carreira. A boa notícia é que iniciativas que apoiam as minas a investir seus talentos nessa área só crescem. E os desafios são grandes: números de um relatório da ONU Mulheres mostram que elas são apenas 17% do total de programadoras, só para citar um exemplo.
De acordo com o Programaria, uma das iniciativas que visam ampliar o acesso das mulheres na produção de tecnologia, o desafio de aprender a programar para uma menina se inicia antes mesmo de tentar. Falta divulgação de exemplos que a inspirem e sobram estereótipos que reforçam a ideia de que a tecnologia é um campo exclusivo para homens.
Quando elas conseguem quebrar esse ciclo, outro desafio é permanecer. 41% das mulheres que atuam na área de tecnologia desistem de suas carreiras, contra apenas 17% dos homens, segundo uma pesquisa da Harvard Business Review.
A desenvolvedora de software Daiane Medeiros Zigiotto se formou aos 17 anos como Técnica em Telecomunicações, curso em que teve contato com algumas aulas de programação, mas acabou indo para a área eletrônica. Foi só no vestibular que arriscou o curso de Análise de Sistemas, onde se encontrou. “Acabei caindo de paraquedas na área de TI, mas me apaixonei”. Nessa entrevista ela fala um pouco sobre os desafios de ser mulher nesse mercado.

 

Quais as maiores barreiras culturais para as mulheres entrarem e seguirem no mercado de tecnologia?

Daiane Zigiotto: A principal é o preconceito que “TI não é coisa de mulher”. E não somente TI, mas também as carreiras STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics). A cultura social não favorece a escolha dessas áreas, pois desde pequenas nós somos incentivadas a seguir carreiras mais relacionadas com Humanas ou Biológicas. É visível que há um fator que desmotiva as meninas a gostarem de informática e, quando adultas, optarem por seguir esta carreira.

Você acredita que há igualdade de oportunidades no setor de tecnologia?

DZ: Não, por diversos motivos. As mulheres são duas vezes mais propensas a abandonar empresas de tecnologia do que homens. A área profissional é extremamente masculina e frequentemente não oferece um ambiente em que as mulheres se sentem acolhidas e livres para desenvolverem seu potencial. Por não terem muitas colegas mulheres, muitas vezes elas se veem isoladas em suas áreas. O salário médio é menor que o dos homens e é bastante comum ouvir relatos de mulheres passam por situações difíceis, como de que seus pares a menosprezam, de que suas habilidades são contestadas e outros assédios – inclusive sexuais.

Mas o problema parece começar bem mais cedo, já na escolha da carreira…

DZ: Existe um termo que consegue descrever bem esse problema: leaky pipeline, um cano com vazamentos. Estudos mostram que 74% das meninas demonstram interesse pelas áreas de STEM, mas só 0,4% delas escolhem estudar Ciências da Computação. O principal problema para as mulheres ingressarem na TI é cultural. Ainda é ensinado que tecnologia, engenharia, programação não são áreas de estudos para as mulheres. Em cursos relacionados à área de TI, 79% das mulheres abandonam a faculdade ainda no primeiro ano. E o próprio ambiente acadêmico pode incentivar isso. Até os professores não sabem lidar com essa realidade. E esse não saber se replica no ambiente de trabalho.

Nesse sentido, como você enxerga as perspectivas do mercado de tecnologia para as mulheres?

DZ: Mesmo que o cenário atual não seja tão favorável, vejo com boas perspectivas o crescimento cada vez maior da presença de mulheres na área. Apesar de ainda encontrarmos ao longo do tempo barreiras sociais, diferenças salariais e preconceitos que subestimam nossa capacidade profissional, continuamos provando, dia após dia, que uma sociedade se torna melhor e mais produtiva quando ela possui igualdade de acesso e oportunidades no mercado profissional.

Existem iniciativas que visam mudar esse cenário?

DZ: Há diversos programas que ajudam as mulheres na indústria de tecnologia. A ideia desses programas é motivar as meninas a considerar a tecnologia como uma opção de carreira e também encorajar outras mulheres que já trabalham na área a enfrentar a falta de diversidade em seus ambientes de trabalho. Para citar alguns, recomendo o Women Techmakers (uma iniciativa do Google), Girls Who Code e aqui no Brasil temos o Programaria, Code Girl, Minas Programam, Rails Girls, entre outros.

Qual seria a sua recomendação para quem quer começar?

DZ: Não dá pra ter medo de errar e de pedir apoio, principalmente apoio de outras mulheres. Mas é bom sair da zona de conforto para perceber que, quando somos desafiadas, conseguimos fazer mais. Vale a pena, também, procurar por grupos de mulheres que se reúnem para ensinar e aprender programação, por exemplo, e criar uma rede a partir disso.

Daiane Medeiros Zigiotto é formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas

pelo IFSP e pós-graduada em Gestão de Projetos em TI pela POLI-USP.

 

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As grandes programadoras da história

Ada Lovelace. Esse é o grande nome que surge quando o assunto é debate de gênero na tecnologia. Embora Ada (1815-1852), a primeira programadora da história (antes mesmo de existir um computador!), seja um grande nome a ser lembrado, existem outras mulheres que deixaram seu legado neste campo.
Grace Hopper (1906-1992) foi uma das grandes pioneiras da informática. Entrou na Marinha americana em 1937 e trabalhou no Mark I, um dos primeiros computadores da história. Já a inglesa Kathleen Booth (1946–62) foi a responsável por criar a linguagem de montagem, desenvolvida para tornar a programação mais fácil e legível para os humanos. Kathleen fez uma grande contribuição para a história da programação e da computação, sendo ainda uma das primeiras mulheres a escrever um livro sobre programação (Programming for an Automatic Digital Calculator – 1958).
Outro nome marcante na história da computação é a austríaca Hedy Lamarr, nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler (1914-2000). Com a combinação improvável de ser atriz e inventora, Hedy e o compositor George Antheil, durante a Segunda Guerra Mundial, criaram um aparelho que empregava o conceito de salto de frequência com o objetivo de causar interferência e despistar radares nazistas. Posteriormente, essa tecnologia foi implementada em larga escala, não para despistar torpedos e sim para fornecer comunicações seguras entre embarcações envolvidas no bloqueio naval.
Veja outras mulheres fodas na programação aqui e aqui.

 

Fonte da imagem de capa: https://iq.intel.com/ada-lovelace-the-first-computer-programmer/

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