Puta – O dia que me Chamaram de Puta

Se a gente dá bola é puta fácil, se não dá bola é puta difícil, se usa pouca roupa é puta oferecida, se usa muita roupa é puta beata, se não transa com ninguém é puta frígida se transa com tudo mundo é puta puta mesmo…mana pra gente machista, não tem jeito, a gente é sempre puta e eu descobri isso bem cedo. O dia que me chamaram de puta…

Quando tinha 12 anos fui a festa de uma das minhas amigas de sala. Ela tinha decidido fazer a festa no boliche do shopping.

Até aí tudo ótimo, nos divertimos, comemos besteira, brincamos a tarde toda e a festa acabou ao anoitecer.

Minha família sempre teve o hábito de buscar e levar até os lugares, coisa que acontece até hoje pois só temos um carro, então eu fiquei sozinha do lado de fora do shopping, no estacionamento, esperando minha mãe chegar.

Onde estava era perto de uma das entradas e o fluxo de pessoas entrando e saindo era freqüente, então quando um grupinho de jovens por volta dos 18 anos foi se aproximando, eu não me preocupei nem um pouco.

Eles vinham rindo e conversando quando um deles me notou e começou a falar “E aí putinha quanto é a hora?”. Eu com meus 12 anos e minhas duas tranças ficamos em choque.

Em nenhum momento me passou que alguém poderia gritar isso pra mim.

A babaquice alheia nunca tem uma explicação lógica, mas nesse caso realmente não tem explicação!

Antes que alguém venha com aquele papinho machista de que “eu devia estar pedindo”, quero que fique bem claro que não, eu não estava!

Até hoje, aos 28 anos, eu tenho cara de fedelha quando estou sem maquiagem, imagina naquela época.

Sem falar que estava frio, era julho,  eu estava com uma blusa de gola alta e mangas compridas, de lã vermelha, uma calça jeans azul marinho com risca de giz, uma bota caramelo, sem maquiagem e como disse, com duas tranças, no melhor estilo festa caipira.

Estava parada, encostada na parede, braços cruzados, olhando para o chão, uma postura nem um pouco convidativa para uma puta.

O xingamento dele veio gratuitamente, simplesmente para humilhar uma “mulher” (entre aspas  sim, porque naquela época eu ainda era uma criança) que estava parada.

Hoje em dia ele deve ser desses que acha que roupa curta é convite, que a mulher pede para ser assediada quando usa batom vermelho, decote, burca, o que for, porque avaliando o comportamento dele com certeza ele é um machista que objetifica a mulher não importa a situação.

Tenho certeza que assim que ele cruzou a porta automática, as palavras dele já eram passado, mas eu lido com isso até hoje.

Eu só me dei conta de que esse momento narrado acima ainda reflete no meu comportamento em 2014, após uma desilusão amorosa que nunca chegou a ser.

Enquanto tomava banho me perguntava por que era tão fechada com os homens já que no passado eu era tão “cara de pau”, em que momento eu comecei a considerar o meu comportamento “flertativo” (se é que existe essa palavra) vulgar e inapropriado? E esse momento veio instantaneamente a minha mente e tudo fez sentido.

Após esse xingamento eu me fechei completamente com relação aos homens, aliás, não sei como eu consegui namorar alguém até hoje, porque eu realmente sou muito fechada e sempre que estou sozinha em público estou com cara de brava.

Tudo porque na minha cabeça infantil eu fiz a seguinte sinapse: “Nossa, mesmo toda coberta e de cara fechada, ainda acharam que eu sou puta, devo ser muito vulgar.” E pronto, o estrago foi feito.

Desde esse dia o meu comportamento com o sexo masculino é sempre distante, mesmo quando estou com alguém acabo sendo fechada e é imensamente difícil alguém conseguir me conquistar de verdade.

Sem falar que passei por relacionamentos abusivos e isso só diminuiu ainda mais minha auto estima e me deixou com mais medo ainda de homens…

É uma situação que mesmo tendo consciência eu não consigo transpassar e frequentemente me vejo impedida de tomar certas atitudes que eu gostaria de tomar.

Meu relacionamento com homens, mesmo fora de situações amorosas no trabalho, por exemplo, é difícil e frequentemente eu me sinto acuada por eles, mesmo que eles não façam nada demais e me tratem super bem.

De 2014 para cá meu comportamento melhorou sim, mas mesmo assim não voltei a ser a pessoa não intimidável que eu era e olha…como eu quero voltar a ser confiante, desinibida e leve como eu era antes…

Todo esse texto pra dizer que se você passou por algum trauma que te deixou com sequelas até hoje, você não está só e é sim possível melhora e lidar melhor com a situação, porque tudo depende de como você vê a situação e a si mesma.

Não deixe de procurar ajuda, de compartilhar com as pessoas que lhe são próximas as dificuldades que você tem e não hesite de se afastar de pessoas tóxicas!

Mana se ame, se perdoe e se dê outra chance porque sim, você merece ser feliz <3

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