A moça dos doces | Uma receita para a vida

Uma receita para a vida.

Era março de 2016, tínhamos 50 reais na carteira e nenhuma previsão de trabalho ou pagamentos, com esse dinheiro, muito medo, e duas receitas de bolo tudo mudou, nascia A Moça dos Doces.

Estávamos numa péssima situação, eu sem contrato de trabalho desde a gravidez, ele, profissional autônomo sem trabalho há seis meses. Não havia pra quem recorrer ou pra onde fugir.

Ele já insistia fazia um tempo, pra que eu me arriscasse e fizesse meus doces para vender.

Eu, que me aventurava na cozinha desde os 8 anos, que sempre inventei minhas receitas e sabia que elas eram boas, eu que sempre fui determinada, estava com medo. Medo de perdermos o único  dinheiro que tínhamos, medo das criticas, medo de fracassar com uma das poucas coisas que me davam pleno prazer em fazer: Bolos!

Compramos algumas embalagens de porção individual, ingredientes, reformamos um caixote de feira que tínhamos em casa, colocamos a alça longa de uma bolsa antiga nele, para ajudar com o peso, usamos um cobertorzinho com desenhos de gatinhos do bebê para proteger os produtos da exposição da rua e deixar nossa caixa de doces mais chamativa. Eu preparei duas formas de bolo, uma de baunilha com Marshmallow de morangos e outra de chocolate com mousse de café. Meu marido saiu para vender.

Ele andou pela avenida principal da cidade que morávamos e de comercio em comercio ofereceu meus doces. E já no primeiro dia ele vendeu todos os produtos. Eu não sabia se ria, tremia ou chorava.

Usei quase todas as minhas receitas, fiz bolos de vários sabores, então fui fazer tortas individuais, mousses, tortas salgadas, aceitei encomendas, e em menos de um mês já conseguíamos sustentar a casa com o dom das minhas mãos.

Eu preparava os doces, ele me auxiliava, e quando saia para vender eu ficava em casa com um bebe de 10 meses, limpava a cozinha, meus utensílios, avaliava o estoque, as receitas que saiam melhor e me planejava para o dia seguinte.

Juntos, nós pensamos e nos programamos para tudo. Em pouco tempo já fazíamos compras para o mês todo em atacadista, o que reduziu muito nossos custos e aumentou os lucros. Cuidávamos da higienização da cozinha, da apresentação dos produtos, da escolha de receitas.

Mas não tínhamos estrutura financeira para fazer nosso negócio crescer além do nosso fogão. E não tínhamos segurança. Qualquer semana chuvosa deixava a situação bem complicada. Ele seguia procurando trabalho na área dele e eu na minha e meses depois a oportunidade surgiu pra ele.

Aquele trabalho lindo, CLT, plano de saúde, seguro de vida, VR… Em outra cidade. E nossos doces tinham dado tão certo que havia dinheiro suficiente para ele ir para a entrevista e se manter até o primeiro pagamento.

Passamos quase 7 meses morando em cidades diferentes. Eu já não conseguia produzir e vender meus doces por causa da falta de vagas na creche do bairro e ainda assim, meses depois que eu já não produzia mais, ainda era parada na rua, por alguém perguntando por aquele caixote de gatinhos coloridos cheio de delicias nas tardes daquela serra.

Então se você me perguntar, sim, com um pouco de talento e 50 reais, dá pra fazer a vida andar, dá pra continuar tendo esperança. Se tiver alguém ao lado pra lutar junto então, o céu é o limite!

 

 

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