Mamãe, segura a tua onda

Mamãe, segura a tua onda

Mamãe, segura a tua onda

As pessoas estão carentes? As pessoas SÃO carentes. Sempre foram. É assim mesmo. Achamos sempre que alguém tinha que nos amar mais, ou demonstrar mais, ou falar mais sobre esse amor. Achamos isso de alguém ou de todo mundo. Depende do buraco de cada um.

É claro que no mundo contemporâneo essa buraqueira está desordenada. Ou porque temos uma capacidade incrível de fantasiar o lance de amar e ser amado, ou porque temos muita dificuldade de demonstrar sentimentos, ou porque temos “preguicinha” de interação, ou porque curtimos um “mimimi”… Fato é que não conseguimos entender e expressar nossas intenções em relação ao outro, e não conseguimos captar e entender as intenções dos outros em relação a gente. E aumenta o buraco…

E eis que… decidimos ter filhos. Estou me dirigindo especificamente às mães, porque não sou pai, sou mãe. E inconscientemente resolvemos que esta é a nossa chance de “consertarmos” boa parte das relações “cagadas” que tivemos na vida: com pai, mãe, irmãos, pares amorosos… É a nossa grande chance de demonstrarmos nosso amor, de nos sentirmos amadas, de viver um amor real com aquele que também nos remete a um profundo narcisismo: aquele pedaço melhorado de você. Não convoco o narcisismo aqui apenas para as semelhanças físicas, mas também aos trejeitos, manias, gostos e semelhanças culturais. “Meu espelho perfeito!!” <3

A tão esperada chance de, inconscientemente, passar nossas relações a limpo, nosso jeito de amar, de demonstrar esse amor e de sermos amados, acaba nos levando a algumas “cobranças” em relação a esse objeto-filho, que remontam à tapação de buraco dessa carência e não, não fazemos por mal, e nem mesmo de forma consciente.

Antes do último feriado estava checando os “stories” do Instagram e vi que uma dessas personalidades do mundo da moda, uma editora famosa, estava embarcando para NY naquele dia a trabalho e falava assim para o filho no video: “Fala pra todo mundo como vai ficar seu coraçãozinho, filho, nesses nove dias que você vai ficar separado da mamãe… você vai ficar com saudade? Vai pensar na mamãe?” E o filhinho respondia, meio que no automático, com pinta de quem já tinha feito aquele “número” várias vezes: “Meu coração vai ficar assim, ó, todo em pedacinhos, cheio de saudade, despedaçado.”

Lembrei também do número de vezes em que, quando eu ainda trabalhava com o crachá pendurado no pescoço, buscava meus 2 filhos na escolinha após ter ficado sem vê-los por 12h, e via mães recebendo seus filhos fazendo logo a pergunta fatal: “Filho! Você sentiu saudade da mamãe?” E eu ficava pensando que aquilo era desnecessário e meio atrapalhado. Se você está interessada na pessoa que você deixou na escolinha e no dia dela, você pergunta: “O que você fez de legal no seu dia?” Se você está interessada em contar como você se sentiu, você fala: “Mamãe tava morrendo de saudades.” Mas você querer escutar do seu objeto de amor / filho o quanto ele sentiu a sua falta, é meio 5a série, não?

Outra dessas peças que o buraco de carência anda nos pregando é o barato de dormir com a cria até a cria ficar marmanja. Afastando os casos em que há um casal na história e um desejo inconsciente de “bombar” qualquer possibilidade de intimidade, dentre os casos que sobram, temos aqueles em que há um orgulho muito grande de como aquela pessoa precisa da nossa presença, o quanto aquele filho ama seu cheiro, adora estar colado ao seu corpo, como ele se sente seguro e feliz com você, ali, a noite toda. Depois a gente pensa na adaptação tardia, no casal que perdeu qualquer resto de intimidade… pois “aquele filho fica TÃO melhor quando dorme comigo durante a noite”… Sejamos honestas: quem precisa de quem?

Portanto o recado é bem simples, não vou me estender.

Demonstre tudo o que sente por seus filhos. Não meça a expressão do seu amor, esteja à vontade, lava a égua, solta a franga.

Mas não solicite expressão de amor e de dependência de forma permanente e constante. Na clínica tenho adultos de mais de 30 anos que falam com frequência “parece que minha mãe não reconhece o quanto amo ela. Eu tenho que ficar falando, ligando para saber como ela está, levo ela aos lugares, mas sempre escuto que eu me esqueço dela, que não a amo mais, que devo ter coisas mais importantes na minha vida.”

Nenhum filho vai falar “não, não senti saudades.” Mas vai ficar com aquela sensação de que não importa o quanto ele demonstre, nunca será o suficiente para tapar o buracão de carência da mãe. E no mais, não dá para esquecer daquela máxima: AMOR é aquilo que uma mãe sente pelo filho e a recíproca NÃO É verdadeira. Então, pega leve e segura a onda. Não dá a tua mochila pesada pro teu filho carregar.

 

Fonte da imagem: google.com

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *