Sim, todos nós temos este dispositivo emocional.
Sim, emocional.
Sim, todos nós.
Não, você não é diferente.
Todos nós somos propensos a se sabotar pelo menos alguma vez na vida. Vou te explicar como funciona:
Primeiro você fica extremamente ansiosa para algum fato da sua vida, no meu caso, uma entrevista de emprego. Depois você se prepara, se arruma, fica elegante, enfia o pé em um sapato desconfortável (e lindo), passa uma maquiagem clean.
Depois você prepara seu discurso na frente do espelho, percebe que está falando baixo demais, corrige a oralidade, toma água para afastar o pigarro. Repete suas qualidades e seus defeitos (clichê), se acha linda e maravilhosa no espelho do banheiro.
Retoca a maquiagem.
Repete seu nome em alto e bom som, se apresenta pra você mesma. Se sente confiante.
No meu caso, estudo o que preciso saber para as perguntas técnicas da área (sou professora). Confiança.
Deixo o bebê com as minhas irmãs bem mais cedo, volto pra casa, retoco a maquiagem, olho cada detalhe da roupa, arrumo a bolsa (todo mundo precisa ter uma caderneta e uma caneta na bolsa, no mínimo).
Como tranquilamente, escovo os dentes para ficar com bom hálito, passo batom, desodorante, perfume.
Confiança.
Muita confiança.
Aí o cérebro começa a dizer: Isso mesmo, vai toda confiante, você precisa desse emprego. Sem esse emprego você vai ficar presa em casa, dependendo financeiramente do marido, cuidando do seu filho o dia todo por não conseguir arcar com a escolinha. Confiança. Você precisa desse emprego.
PRESSÃO PSICOLÓGICA
Você é capaz, vamos lá.
Chega na entrevista, o corpo desobediente começa a suar. Agradeça ao desodorante por não permitir o mau cheiro.
PIGARRO
Se apresenta com a voz esganiçada. ISSO MESMO, COMEÇOU BEM!
PRESSÃO PSICOLÓGICA
Estranho, tantos anos de teatro, tantos anos dando aulas, tantos anos falando em público e justamente agora começa esse nervosismo? Pó-pará hein.
Chega a entrevistadora, linda, impecável e com ar de superioridade (coisa da minha cabeça, eu sei, ela foi simpática)
Começo a falar alto e embaralhado. Me corrijo.
“- Calma, meu bem, é comum ficar nervosa, mas nós já estivemos no mesmo lugar em que está hoje.” – Com um sorriso no rosto.
Ferrou (pra não falar o palavrão correto. )
Comecei a falar, abri o computador, apresentei os slides, mas me embaralhei na explicação. Coisa simples, Pronomes. Dou aulas disso desde o primeiro semestre da faculdade.
Peço desculpas, é o nervosismo.
Recomeço. gaguejo desesperadamente. Uma palavra simples já não saía mais. Daí foi tudo por água abaixo. respirei fundo. Pior que tá, não fica….
Errei o propropronome (imagina o nível de gagueira) pessoal oblíquo átono. chamei de pronome pessoal oblíquo reto (me perguntei se eu havia bebido vodka no lugar da água, não é possível.)
Me corrigi. Elas riram de mim.
Me corrigi, fiquei vermelha, eu já havia me tornado uma cachoeira de tanto suor.
Agradeci, encerrei a aula, sentei na minha cadeira, fechei o computador, fechei minha caderneta. Queria chorar mas tentei me manter plena.
Me avaliaram e disseram que ligariam.
Estou esperando a ligação.
Sou capaz, sei que sou. Só sei dar aulas a minha vida toda. Maaaaas me sabotei. O nervosismo e a pressão psicológica que coloquei sobre mim me sabotou.
Fica como lição. Excesso de confiança também faz mal.
E sim, podem rir de mim, agora estou fazendo isso também.