A destrutibilidade do movimento childfree

Trago para a tela uma polêmica atual: “A destrutibilidade do movimento childfree e a adulteração do tema em questão”.

Inicialmente proponho convencionar a ideia principal do movimento childfree em suas raízes. O nicho vem na esteira de um movimento que declara-se “livre de crianças”, que existe desde os anos 1980 nos Estados Unidos e no Canadá para agrupar adultos que se sentiam discriminados pela sociedade por não terem filhos.

Existem interpretações equivocadas que preconiza e expõe o movimento childfree avançando demasiadamente e há também uma sociedade que emerge e acredita nas falácias do fake news e seus diálogos precários sobre o tema, então vamos tentar esclarecer algumas coisas.

No facebook e outras redes sociais é fácil se deparar com memes, grupos e pessoas que comentam com frequência questões relacionadas com o “1 childfree” ou o “2 odeio crianças e elas deveriam ficar em casa mesmo #prontofalei”, como se os dois temas fossem as mesmas coisas e é como se o 2 fosse apenas uma opinião e não um julgamento de ódio e uma restrição preconceituosa. Vamos pontuar melhor e para que não haja mais dúvidas?

1 childfree: livre de crianças no sentido de não querer ser julgado por não ter filhos

2 odeio crianças e elas deveriam ficar em casa mesmo #prontofalei: preconceito, ódio disseminado, segregação?

Resumindo, o childfree em sua ordem inicial visava proteger de julgamentos, mulheres e pessoas que optaram por não ter filhos. (PONTO FINAL, termo esclarecido. Infelizmente não, sinto em informar que aqui está só começando a treta!)

Continuando a explicação chegaríamos a conclusão que optar por ser childfree nada tem a ver com ódio ou preconceito direcionado a crianças mas sim pelo poder de escolha, livre arbítrio e a vontade de não serem julgados por uma sociedade conservadora que cobra a continuação da espécie humana por meio da reprodução “óbvia” após atingida a fase adulta.

Até aí, super bacana e válido. Era necessário mesmo renovar a visão mega plus ultrapassada de concepção gestacional. Afinal ninguém é obrigado a ter filhos apenas pelos votos ou pela antiga tradição do casou tem que engravidar e a piadinha de que vai ficar para titia.

Uma parcela da sociedade que nos parece a primeira olhada os caçadores de termos gringos para tornar ódio e preconceito algo justificável na internet ou na real, encontrou aí uma possibilidade de restringir o acesso de crianças mesmo que acompanhadas por pais ou responsáveis em lugares de frequência aberta a todos os públicos.

O ilógico destaca-se e surge de todos os cantos restrição de crianças em casamentos, restaurantes, lanchonetes, hotéis, pousadas e ambientes onde quem odeia criança se apropria incoerentemente do termo e irracionalmente sai gritando aos quatro cantos que é childfree, confira aqui um alguns exemplos.

A desconstrução do diálogo em construção

Os ataques denominados erroneamente de childfree golpearam também pessoas em busca de liberdade de escolha, mas desse lado estavam os que optaram por ser mãe, pai, tio, avó, avô, tutor ou aqueles que simplesmente escolheram parir, criar ou educar uma criança livremente.

Dois pesos e duas medidas, assim como o movimento childfree cultua a liberdade de não ter filhos, há também aqueles que lutam pela escolha de ter e poder vivenciar a alegria de estar com seus filhos e desfrutarem orgulhosamente espaços diversos com as crianças.

Mas como educar uma criança socialmente aceitável e inteligente se essa criança não pode frequentar ambientes sociais de convivência tão óbvios como um restaurante ou um hotel. (?)

Mas uma pedra no caminho, nesse sentido abominar e proibir crianças que frequentam ambientes qualquer por si só já seria um erro.

Os casais hetero, casais homoafetivos, mães solos (diga-se de passagem que são aquelas que aderiram a maternidade compulsória ou não, e essas são as principais atingidas quando não podem frequentar um ou vários locais com seus filhos).

Dual, desconstruído ou construído sem fundamentos que fortaleceram o movimento childfree inicialmente criados, moldou-se a estrutura na sociedade de que childfree era todo e qualquer espaço, pessoa e ocasião que odeia criança. Há ainda aqueles que aproveitam e reforçam o molde de que crianças são mal-educadas porque seus pais não colocam ou impõe limites.

Vejamos que aqui cria-se uma máscara de que todas as crianças são iguais e que seus pais não as educam apropriadamente, como se houvesse um manual de educação elitizado e que todas as crianças em suas diversas fases do desenvolvimento cognitivo e motor são iguais, logo todos os pais que não impõe limites também duvidosos, são condenados e não frequentarem determinados espaços com seus filhos – o que por si só já seria uma prática excludente e fora de cogitação – e já expõe a fragilidade preconceituosa homogeneizando famílias e o ato de ensinar que opera as diretrizes dos pseudos childfree nessa vertente de abominação kids que nada se parece com o original movimento citado e esclarecido nesse texto.

[…] É como se na cabeça de algumas pessoas realmente houvesse uma fórmula mágica educacional vendida em incríveis cartelas de comprimidos sabor tutti-frutti na farmácia.

Mais uma justificativa bem comum é a classificação etária

Não é difícil encontrar pessoas que saiam em defesa do errôneo movimento childfree e falem que nos ambientes acadêmicos, palestras, motéis, bares e baladas noturnas não pode levar criança e que esses ambientes não são para crianças frequentarem.

ATENÇÃO, essa é uma horrível tentativa de justificar o óbvio, desculpinha falida e infundada, já que é circunstância prevista por lei e medida de política pública. Então, claro que a classificação desses locais são +18, não por serem “childfree” mas pelo evidente risco em que a criança é exposta ou submetida.

Problematização mais uma vez sem lógica real a não ser o ódio disseminado. Existir essa classificação etária em locais obviamente onde crianças não devem estar não é justificativa para quem odeia crianças e se declara childfree por engano, mas sim uma medida de proteção básica do ECA.

Reflexão pós leitura

Introduzir placas de “aqui crianças não são bem vindas” também prevê abrir outras portas para restrição de grupos das demais minorias.

Simples amigxs, vamos olhar menos para nós e nossas comodidades e observar o apelo de seres humanos iguais em carne e osso, que clamam por serem respeitados como uma parcela da sociedade com os mesmos direitos.

A tentativa aqui exposta, é não punir uma criança com o egoísmo adulto, o frio humano, o fúria discreta, o preconceito velado.

Não confundam childfree com  ódio e restrição de crianças em ambientes.

Ser mãe e ser empoderada também é possível!

Aceito sugestões e aproximação de humanidades, de gente que ainda tem um coração a pulsar.

Aquelxs que sentiram o chamado e possuem filhos, sobrinhos, netos, afilhados ou aquelas crianças cheias de vida no sofá da sala, saiam de casa com elas sim, ensine-as a respirar o silêncio de uma prece na igreja e também ensine-as a valorizar os gritos soltos de alegria no parque, sem medo de uma sociedade adoecida, deixem as crianças serem crianças.

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